Forças Armadas nas ruas vazias e supermercados lotados no ES

A crise de segurança chega hoje ao sétimo dia com 113 mortos segundo informações do sindicato dos Policiais Civis. Para além do medo generalizado e do drama de quem vive na pele a violência, a sensação é a de que a semana foi suspensa na cidade.

As escolas e os postos de saúde continuam fechados, assim como o comércio do centro da cidade e as agências bancárias. Em alguns bairros, a escassez de dinheiro nos caixas eletrônicos começa a preocupar. Nas ruas, poucas pessoas a pé, menos carros do que o habitual e, durante mais um dia, nenhum ônibus — os veículos retornaram às garagens ainda de manhã depois o assassinato do presidente do Sindicato dos Rodoviários de Guarapari.

O supermercado do bairro de Mata da Praia, onde Pimentel fazia seu estoque de comida, estava superlotado na manhã de ontem. Já faltavam ovos e verduras, e o arroz não foi alcançado por quem chegou depois das 10h30m.

— É só a segunda vez que saio de casa na semana. E faço isso porque precisava comprar comida. Fico impressionada como a oportunidade está revelando bandidos — comentou, à entrada do mercado, a funcionária pública aposentada Suzana Tomaz.

Algumas das pessoas que cometeram crimes ao participar de saques, porém, se arrependeram. No sul do estado, em Cachoeiro de Itapemirim, o arrependimento foi mais forte: eletrodomésticos foram devolvidos na delegacia.

Em alguns prédios, moradores improvisaram serviços de entrega de alimentos. Em um grupo de WhatsApp de um condomínio de Serra, na grande Vitória, eram oferecidos lanches rápidos e refeições para vizinhos com a geladeira vazia, já com tabela de preços. Em vários bairros não há restaurantes abertos.

A presenças das tropas federais nas ruas não está sendo suficiente para diminuir a sensação de insegurança, e a maioria da população fica em casa. Desde ontem, são 1.700 homens de Exército, Marinha e Força Nacional de Segurança. Até domingo, o número chegará a 3.000, segundo as autoridades.

IMPASSE CONTINUA

A crise com os policiais militares permanece, e o governo estadual continua sem controle da tropa. A Secretaria de Segurança, segundo publicou “A Gazeta Online”, decidiu ontem que vai punir 300 PMs por motim ou revolta, o que pode resultar em expulsão da corporação ou até prisão. A anistia aos policiais que não estão nas ruas é uma das exigências das mulheres de PMs que bloqueiam a entrada dos batalhões e servem como justificativa para o aquartelamento da tropa capixaba.

A notícia da punição foi divulgada enquanto representantes das mulheres e de associações de praças e oficiais estavam reunidos com a comissão de negociação criada pelo governo do estado para negociar uma solução para o impasse. Integram essa comissão o chefe da Casa Civil, José Carlos da Fonseca; e os secretários de Fazenda, Paulo Roberto Ferreira; de Direitos Humanos, Julio Pompeu; e de Controle e Transparência, Eugênio Ricas.

A reunião, no Palácio da Fonte Grande, uma das sedes do governo estadual, se estendeu pela noite de ontem. No lado de fora do prédio, cerca de 30 proprietários de lojas do centro da cidade, inconformados com os roubos e a impossibilidade de abrir seus negócios, fizeram um protesto pelo fim da crise. Eles dizem representar 160 lojistas da região e se organizam para ajuizar uma ação civil contra o estado cobrando ressarcimento pelos prejuízos durante toda a semana sem trabalho, clientela e faturamento.

— Queremos recolher em juízo os impostos relativos a esse período. Tenho 70 funcionários, não posso cortar salário deles por isso. E não posso pedir que venham trabalhar, pois a responsabilidade pela segurança deles é do dono da loja. Não aguentamos mais. Quanto tempo até as pessoas perderem o medo? O prejuízo que já tivemos é incalculável — reclama Mauricio Meireles, dono de uma loja de utilidades e presentes.

O movimento de paralisação da Polícia Civil, anunciado ontem por nove associações de classe de diferentes funções da categoria, como investigadores, delegados e peritos, não começou ontem. Os líderes do movimento afirmam que a atitude de fechar algumas delegacias e manter ativas apenas as centrais de flagrantes e os serviços essenciais, como o Departamento Médico-Legal, será iniciado hoje. Além de melhores salários, os policiais civis alegam não ter segurança para trabalhar.

CARIRI EM AÇÃO

Com O Globo/Fotos: Reprodução

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