Os testes realizados até agora confirmam que a tecnologia proporciona ao paciente um alívio por pelo menos 50 minutos, garantido, inicialmente, para procedimentos menos invasivos como a raspagem periodontal, microcirurgias e extração de dentes de lei em crianças, além da própria picada da agulha. A ideia é continuar desenvolvendo o adesivo para que ele também seja aplicado em intervenções mais profundas como cirurgias de canal.
Os pesquisadores estimam de um a cinco anos para que a inovação chegue ao mercado e seja produzida em escala industrial. Parte da pesquisa foi publicada nas revistas Colloids and Surfaces B: Biointerfaces eBiomedical Chromatography.
“Ele tem um efeito anestésico muito satisfatório, eliminando o uso de agulha. Outros procedimentos ainda vão se dar ao longo do desenvolvimento da pesquisa pra gente poder ter a certeza da utilização dessa fita adesiva com procedimentos mais invasivos”, afirma Paulo Linares Calefi, um dos pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) que participaram do estudo.
Medo de agulha
O estudo começou motivado por uma situação comum nos consultórios. O medo da injeção na hora da anestesia, além de um problema para os pacientes, também é um desafio na rotina dos profissionais.
“Com aquela agulha, conforme ela vai se aproximando, você percebe muitas vezes o paciente transpirando na testa, no bigode”, descreve o professor de odontologia da USP, Vinicius Pedrazzi.
Além do efeito psicológico sobre os pacientes, a agulha representa um risco à saúde de quem trabalha diariamente com ela nos consultórios.
“Além do pavor que o paciente tem da anestesia, da agulha, tem o pavor dos profissionais de saúde. A maior causa de acidentes entre profissionais de saúde com objetos perfurocortantes se trata de seringas com agulhas. O risco é muito alto de se cortar ou perfurar com agulha contaminada. Se o paciente tiver hepatite, HIV, doenças que são transmissíveis pelo sangue, é um risco muito grande de ter de usar o coquetel por um tempo ou até de a pessoa ficar doente”, afirma.
Foi assim que, após uma série de trabalhos desde 2012, os pesquisadores começaram a desenvolver um filme mucoadesivo feito a partir da hidroxipropilmetilcelulose (HPMC), um polímero de baixo custo derivado da celulose vegetal já usado nos setores de farmácia, cosméticos e alimentos.
“Estávamos pesquisando géis filmes para colocar dentro de bolsa periodontal pra tratar doença periodontal e aproveitar esses mesmos géis pra ver se funcionavam carregados com anestésico que a gente usa normalmente pra tratar o paciente”, explica.
Adesivo anestésico
A fita que substitui a injeção é colocada sobre a gengiva e libera um anestésico que, aos poucos, atinge o tecido ósseo e o dente. Os efeitos começam a ser sentidos após cinco minutos, atingem seu auge entre 15 e 25 minutos e permanecem por 50 minutos.
O dispositivo tem formato circular para se adaptar melhor à anatomia da boca e para facilitar a aplicação, segundo Paulo Calefi.
“A atividade anestésica acontece além desses 50 minutos, mas para os testes foi determinado que, na aferição dos resultados, que 50 minutos ainda tinham a presença da anestesia muito bem difundida”, afirma o pesquisador.
Orientador do estudo, o professor Osvaldo de Freitas afirma que já existem outros adesivos no mercado, mas com capacidade anestésica mais superficial, que servem para aliviar a dor da injeção.
A tecnologia ainda está em fase de registro de patente e tem previsão de chegar ao mercado em até cinco anos. O grupo continua a atuar com objetivo de tornar a fita capaz de substituir a agulha em todos os procedimentos odontológicos.
“O que fizemos hoje foi o desenvolvimento do sistema de liberação. A avaliação foi a odonto que fez, isso no âmbito de laboratório. Agora nós passaremos para uma segunda fase que é o desenvolvimento industrial desse produto”, diz.
Os testes
Além dos testes preliminares, a cada etapa de desenvolvimento, os pesquisadores fizeram um estudo em que submeteram dois grupos de pacientes a situações distintas.
Sem que soubessem, alguns pacientes receberam um “placebo” enquanto outros utilizaram o adesivo. Depois de submetidos a situações de dor, todos foram estimulados a registrar, em uma escala de 0 a 10, a intensidade do incômodo.
Quem recebeu o adesivo sem o princípio ativo descreveu ter tido um relativo alívio da dor, como uma consequência do próprio efeito “placebo”. No entanto, quem teve acesso ao dispositivo real relatou ter zerado o incômodo.
“Isso dá uma confiança para o paciente, para o profissional, que vai ter de lidar com o tratamento, não com o medo de saber como o paciente vai reagir perante esse atendimento”, diz Pedrazzi.
CARIRI EM AÇÃO
Com G1/Foto:Reprodução
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