À reportagem Decotelli disse que, além ser determinante para seu pedido de demissão, o posicionamento da fundação teve a intenção de destruir sua imagem.
Embora não fosse contratado fixo da instituição, como ressaltou a FGV, Decotelli lecionou e ainda leciona na instituição.
“Estou com agendas de turmas na FGV”, disse. “Ontem à noite, em respeito aos alunos da FGV, lecionei na pós-graduação de finanças, no horário entre 19h e 22h30. Ou seja, em 2020 trabalhei em várias turmas.”
Decotelli chegou a ser nomeado ministro da Educação na última quinta-feira (25) mas não foi empossado. O governo Jair Bolsonaro ainda avalia quem será o substituto.
Minaram sua indicação falsidades contidas em seu currículo, onde constava, por exemplo, título de doutorado que não fora concluído. O mestrado de Decotelli, defendido na FGV em 2008, também foi colocado sob escrutínio por causa de trechos considerados como plágio – o que ele nega.
A nota da FGV de segunda-feira (29), entretanto, foi, nas palavras do professor, “a pá de cal” do processo diante do presidente Bolsonaro.
“[A informação dada pela FGV foi] covardia e intenção na destruição da minha imagem”, disse.
Decotelli afirma ter certeza que o racismo colaborou com seu desgaste. “São muitos os currículos com ajustes permanentes na plataforma Lattes.”
O professor encaminhou à reportagem imagens de prêmios de reconhecimento sobre atividades em cursos da FGV e uma relação de aulas com agendas de turmas entre os anos de 2001 a 2018.
O episódio envolvendo Decotelli foi avaliado por integrantes da FGV como um desgaste para a instituição. A direção foi pressionada por docentes, segundo apuração da reportagem, a dar uma resposta forte para preservar sua imagem.
Na nota, a FGV ressalta que Decotelli “atuou apenas nos cursos de educação continuada, nos programas de formação de executivos e não como professor de qualquer das escolas da Fundação”. E continuou: “Da mesma forma, não foi pesquisador da FGV, tampouco teve pesquisa financiada pela instituição.”
O texto também foi uma forma de dissociar a FGV de um estágio de pós-doutoramento na Alemanha que constava no currículo de Decotelli. A etapa seria inviável, uma vez que ele não completou o doutorado.
A FGV não havia respondido questionamentos feitos pela reportagem, na segunda e na terça, sobre qual seria o último período de atuação de Decotelli na instituição e em quais cursos.
Após ser procurada novamente nesta quarta, a FGV reiterou que Decotelli “atuou apenas nos cursos de educação continuada, como professor colaborador”, nos programas de formação de executivos.
“Como tal, deu aula ontem, o que corrobora as informações prestadas, repita-se, de que atuava como professor nos cursos de educação continuada”, disse a nota. “A respeito das denúncias contra ele, reafirma-se que uma comissão específica apurará todos os fatos relacionados a eventual plágio em sua dissertação de mestrado.”
A presidente da Anup (Associação Nacional das Universidades Particulares), Elizabeth Guedes, disse ao Painel que Decotelli passou por achincalhe e que a FGV foi covarde.
Guedes, que é irmã de do ministro Paulo Guedes (Economia), conhece Decotelli há 30 anos, quando o contratou para dar aulas no Ibmec-SP, do qual foi uma das fundadoras.
Apesar da nota da FGV, Decotelli defende que atuou como pesquisador da instituição na condição de co-autor de quatro livros publicados pela editora FGV. O site da editora FGV traz três títulos com Decotelli como um dos autores: Gestão Financeira Aplicada, Gestão de Finanças Internacionais e Gestão de Riscos no Agronegócio, todos de 2013.
A pesquisa publicada por Decotelli após pesquisa na Alemanha também consta da biblioteca virtual da FGV.
O economista negou que tenha cometido plágio em dissertação de mestrado e disse que iria rever possíveis lacunas nos créditos. Após as denúncias, ele alterou seu currículo na plataforma Lattes com relação às informações de doutorado e pós-doutorado.
Constava no currículo de Decotelli um doutorado pela Universidade Nacional de Rosario, da Argentina, mas o reitor da instituição, Franco Bartolacci, negou que ele tenha obtido o título.
Além disso, a Universidade de Wuppertal, na Alemanha, informou que não oferece título de pós-doutor, conforme o ex-ministro alegava ter.
O professor foi presidente do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) entre janeiro e agosto de 2019. Ele fez parte do grupo que discutiu educação na transição do governo.