A primeira vacina contra Covid-19 em desenvolvimento na Rússia receberá aprovação regulatória local ainda em agosto, anunciou o governo nesta quarta-feira (29).
Tatiana Golikova, vice-primeira-ministra da Rússia afirmou que o imunizante em desenvolvimento no Instituto Gamaleya de Epidemiologia e Microbiologia, em Moscou, tem registro previsto para agosto de 2020 com a condição de “outro ensaio clínico para 1600 pessoas ser realizado” em seguida. “O início da produção está previsto para setembro de 2020”, completou.
“Outra vacina foi desenvolvida pelo Centro de Pesquisa Estatal Vector de Rospotrebnadzor, os ensaios clínicos combinados começaram, sua conclusão e o registro estatal estão planejados para setembro. O primeiro lote está previsto para ser produzido em outubro de 2020”, afirmou Golikova.
Sobre a vacina do Instituto Gamaleya, uma fonte da agência Reuters próxima ao desenvolvimento afirmou que “a aprovação (regulatória) será nas duas primeiras semanas de agosto”. “Dez de agosto é a data esperada, mas seguramente será antes de 15 de agosto. Todos os resultados (experimentais) até agora são altamente positivos”, disse essa fonte.
O instituto concluiu este mês os primeiros testes em humanos com o imunizante baseado em adenovírus e espera iniciar os testes em larga escala em agosto, informa a Reuters.
A vacina será administrada aos profissionais de saúde da linha de frente logo em seguida, afirmou a fonte da agência.
Paraná pode receber uma vacina contra o coronavírus, que está sendo desenvolvida na Rússia
No Brasil, o Paraná manifestou interesse em ter acesso a vacinas produzidas na Rússia. Um dos representantes do governo estadual esteve nesta semana com o embaixador russo para discutir uma possível parceria e ofereceu a estrutura do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) para a produção. Os envolvidos ainda não chegaram a um acordo.
Em desenvolvimento
Mais de 100 possíveis vacinas estão sendo desenvolvidas em todo o mundo para tentar acabar com a pandemia. Pelo menos quatro estão em fase final de testes em humanos na Fase 3, de acordo com dados da OMS, incluindo três desenvolvidos na China e outro na Reino Unido.
O entrevistado da Reuters destacou que o Kremlin está determinado para que a Rússia seja o primeiro país do mundo a aprovar uma vacina.
A velocidade com que a Rússia está se movendo para lançar a vacina levou alguns meios de comunicação ocidentais a questionar se Moscou está colocando o prestígio nacional à frente da ciência e da segurança.
A agência de notícias russa Interfax citou “uma fonte informada” dizendo que a vacina seria registrada de 10 a 12 de agosto e administrada a partir de 15 de agosto.
O serviço de imprensa do Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF), que está coordenando e financiando os esforços de desenvolvimento de vacinas da Rússia, se recusou a comentar, mas seu chefe, Kirill Dmitriev, negou que a velocidade de desenvolvimento da vacina da Rússia esteja comprometendo a segurança.
Estudiosos tentam desenvolver vacina contra coronavírus — Foto: CDC/Unsplash
“O Ministério da Saúde da Rússia segue todos os procedimentos rigorosos necessários. Não há atalhos sendo tomados”, disse Dmitriev nesta terça-feira.
Dmitriev comparou o que disse ser o sucesso da Rússia no desenvolvimento de uma vacina com o lançamento do Sputnik 1 pela União Soviética em 1957, o primeiro satélite do mundo.
“Assim como o Sputnik foi o resultado de cientistas russos muito talentosos … nossa pesquisa de vacinas é baseada no trabalho de grandes cientistas russos”, disse ele.
O Centro Nacional de Segurança Cibernética do Reino Unido disse neste mês que hackers apoiados pelo estado russo estavam tentando roubar vacinas de Covid-19 e pesquisas de tratamento de instituições acadêmicas e farmacêuticas de todo o mundo. As alegações foram negadas por Moscou.
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Etapas para a produção de uma vacina
Para se produzir uma vacina, leva tempo. A mais rápida desenvolvida até o momento foi a vacina contra a caxumba, que precisou de cerca de quatro anos até ser licenciada e distribuída para a população.
Antes de começar os testes em voluntários, a imunização passa por diversas fases de experimentação pré-clinica (em laboratório e com cobaias). Só após ser avaliada sua segurança e eficácia é que começam os testes em humanos, a chamada fase clínica – que são três:
- Fase 1: é uma avaliação preliminar da segurança do imunizante, ela é feita com um número reduzido de voluntários adultos saudáveis que são monitorados de perto. É neste momento que se entende qual é o tipo de resposta que o imunizante produz no corpo. Ela é aplicada em dezenas de participantes do experimento.
- Fase 2: na segunda fase, o estudo clínico é ampliado e conta com centenas de voluntários. A vacina é administrada a pessoas com características (como idade e saúde física) semelhantes àquelas para as quais a nova vacina é destinada. Nessa fase é avaliada a segurança da vacina, imunogenicidade (ou a capacidade da proteção), a dosagem e como deve ser administrada.
- Fase 3: ensaio em larga escala (com milhares de indivíduos) que precisa fornecer uma avaliação definitiva da sua eficácia e segurança em maiores populações. Além disso, feita para prever eventos adversos e garantir a durabilidade da proteção. Apenas depois desta fase é que se pode fazer um registro sanitário.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para se fazer um ensaio clínico no Brasil, é preciso da aprovação do Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão vinculado ao Ministério da Saúde. Os voluntários são recrutados pelos centros de pesquisa.
com g1