Bolsonaro tem nova irritação com a imprensa: “Não tem pergunta decente para fazer?”

“Com todo o respeito, não tem uma pergunta decente para fazer? Pelo amor de Deus”, disse o presidente, ao ser questionado pela reportagem se falaria desta vez sobre os depósitos de R$ 89 mil na conta de Michelle.

Neste domingo (23), durante uma visita de cinco minutos a ambulantes da Catedral de Brasília, um repórter do jornal O Globo questionou o presidente sobre os motivos para Queiroz e sua mulher terem repassado esse valor para a conta de Michelle.

Após a insistência do repórter, sem olhar diretamente para ele, afirmou: “A vontade é encher tua boca com uma porrada, tá?”.

Amigo do presidente há 30 anos, Queiroz atuou como assessor de Flávio na Assembleia, quando o filho do presidente era deputado estadual.

Queiroz está em prisão domiciliar e, assim como Flávio, é investigado sob suspeita dos crimes de peculato, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Na segunda-feira (24), em conversa reservada relatada à reportagem, o presidente reconheceu que exagerou na declaração, mas ele ainda não definiu se pedirá desculpas públicas.

Ele tratou do assunto com ministros como Fábio Faria (Comunicações) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).

Nas conversas, disse que não pretende repetir nos próximos dias a retórica inflamada, já que, na avaliação dele, ela pode prejudicar o anúncio de pautas positivas, como o Renda Brasil.

“Conversei agora com o presidente. Aviso aos torcedores do caos e do conflito diário: perderam. A paz continua”, escreveu Faria nas redes sociais.

Bolsonaro também foi lembrado de que o aumento de sua popularidade ocorreu justamente quando ele adotou uma postura “paz e amor” e deu uma pausa em confrontos diretos com veículos de imprensa e com o STF (Supremo Tribunal Federal).

A declaração do presidente foi avaliada como desastrosa tanto por integrantes da cúpula militar como da equipe econômica.

Para eles, Bolsonaro criou sem motivo uma pauta negativa contra a sua própria gestão em um momento no qual vinha recuperando a sua imagem pública.

O ideal, na opinião de assessores do governo, é de que o presidente viesse a público pedir desculpas.

Também na segunda-feira, o presidente divulgou em seu canal do YouTube um vídeo que tem sido usado por apoiadores para dizer que o profissional de imprensa teria dito ao presidente “vamos visitar sua filha na cadeia”.

Os simpatizantes de Bolsonaro que divulgaram o vídeo dizem que isso teria motivado a resposta do presidente, sugerindo a agressão física contra o profissional.

O vídeo republicado por Bolsonaro não traz legendas e é intitulado “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!”. Também foi publicado na conta de Facebook do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente e influente na estratégia de mídias sociais do governo.

No vídeo, não consta a pergunta do repórter, mas é possível ouvir a voz de um homem não identificado que diz “vamos visitar nossa feirinha da Catedral?”.

Em seguida aparece a resposta do presidente: “Vontade de encher sua boca com uma porrada, tá?”.

O mesmo vídeo foi utilizado mais cedo pelo portal bolsonarista Terra Brasil Notícias. O site, falsamente, identificou a fala desse homem não identificado como sendo a do repórter e indicou, também de forma falsa, que a pergunta tinha sido sobre a filha do mandatário.

Mais tarde, ainda na segunda-feira, o mesmo site publicou uma errata e reconheceu que, no vídeo, não aparecia nem a voz do repórter nem se a pergunta era sobre a filha de Bolsonaro.