PF faz operação contra família de chefe do tráfico na fronteira com o Paraguai

A Polícia Federal começou a cumprir, na manhã desta quinta-feira (27), 21 mandados de prisão –16 preventivas e cinco temporárias – e 67 de busca e apreensão no Distrito Federal e outros quatro estados. As ordens são parte da operação Pavo Real, que tem como alvo uma organização criminosa liderada pelo traficante Jarvis Pavão.

Jarvis foi apontado como associado da facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital e é, segundo investigadores, “o rei da fronteira entre Brasil e Paraguai”. Também foi investigado por envolvimento na morte do traficante Jorge Rafaat, em uma disputa pelo controle do tráfico na região (veja mais abaixo). Desde agosto do ano passado, está na Penitenciária Federal de Brasília.

“[Jarvis] é considerado o rei da fronteira entre Brasil e Paraguai. Por muito tempo teve o controle das drogas por Peru, Colômbia, Bolívia e a maconha do Paraguai, que eram importadas no Brasil por Ponta Porã”, disse em coletiva de imprensa o chefe da Diretoria de Operações de Repressão a Drogas da Polícia Federal, Leonardo Marino.

Segundo as investigações, mesmo preso, Jarvis comandava um esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de bens obtidos por meio do tráfico internacional de drogas. A organização criminosa contava com a esposa, a mãe, o padrasto, filhos, genros, irmãos e sobrinhos dele. Todos foram alvos de mandados de prisão nesta quinta.

Material apreendido na operação Pavo Real, que tem como alvo o traficante Jarvis Pavão — Foto: Polícia Federal/Divulgação

Material apreendido na operação Pavo Real, que tem como alvo o traficante Jarvis Pavão — Foto: Polícia Federal/Divulgação

De acordo com as investigações, além da ocultação de bens, o grupo também participou de disputas pelo controle do tráfico internacional de drogas na fronteira entre o Mato Grosso do Sul e o Paraguai, “em uma verdadeira ‘guerra’ contra facções e organizações rivais”.

“Ao longo da atividade criminal, ele constituiu um patrimônio milionário. Tem vários bens em nomes de terceiros. Nenhum familiar exerce atividade lícita. Todos os familiares vêm ostentando riqueza oriunda do tráfico de drogas”, afirmou Leandro Marino.

Bloqueio de bens

Segundo a PF, Jarvis será indiciado por 56 atos de lavagem de dinheiro, organização criminosa, associação para o tráfico e evasão de divisas.

Ao todo, foram bloqueados R$ 300 milhões das contas bancárias de 96 investigados, entre pessoas físicas e jurídicas, além do sequestro de 50 imóveis. A Justiça Federal também ordenou a suspensão da atividade comercial de 22 empresas que, segundo a PF, eram usadas para a movimentação dos valores ilícitos.

“Percebemos que os familiares recebiam mesada para manter o padrão de vida, inclusive empresas de câmbio que retornavam esse valor para compra de veículos, passagens”, disse o delegado.

Ainda de acordo com Leandro Mariano, a operação desta quinta faz parte de um planejamento de ações contra o tráfico de drogas previsto para o segundo semestre. “A apreensão de drogas não leva um grande prejuízo às organizações. É um prejuízo esperado. A PF está focando no núcleo financeiro e consequentemente a prisão dos seus líderes.”

“Essa operação de hoje visa a descapitalização patrimonial. Ela ataca as lideranças e não há sequer apreensão de um grama de droga nessa operação. É uma operação que vinculou diretamente à questão da lavagem de dinheiro, à questão da identificação de imóveis, de veículos de luxo, de interpostas pessoas a serviço do crime, os laranjas.”

Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal de Rondônia e foram cumpridos também nos estados de Rondônia, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Santa Catarina. A operação ainda contou com o apoio do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e da Receita Federal.

Operação Pavo Real

Itens apreendidos na operação Pavo Real, da Polícia Federal — Foto: PF/Divulgação

Itens apreendidos na operação Pavo Real, da Polícia Federal — Foto: PF/Divulgação

Jarvis está detido na Penitenciária Federal de Brasília há um ano. Segundo a PF, as apurações começaram em fevereiro de 2019, quando quando ele estava na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO).

À ocasião, policiais encontraram diversos bilhetes escritos à mão e com anotações de imóveis codificados por siglas e codinomes. Segundo a Polícia Federal, há um núcleo de familiares que viaja junto com o traficante sempre que há transferência de presídio.

A primeira fase da operação foi deflagrada em junho do ano passado. À época, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em imóveis de alto padrão em Porto Velho, que teriam sido alugados pelo grupo criminoso para ficar mais próximo à penitenciária federal da cidade.

Nesses locais, os policiais também encontraram armas, munição e diversos documentos e equipamentos eletrônicos que, segundo a PF, reforçaram o esquema de lavagem de capitais.

Jarvis Pavão

Jarvis Chimenes Pavão era, segundo a Justiça brasileira, um dos principais fornecedores de cocaína do país. De acordo com a Polícia Federal, já foi condenado a mais de 60 anos de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro e tráfico internacional e drogas.

Em 2009, começou a cumprir pena no Paraguai, após ser condenado também no país vizinho. Em junho de 2016, foi considerado suspeito da morte do traficante Jorge Rafaat, em uma disputa pelo controle do tráfico na região da fronteira.

Imagens mostram momento em que traficante foi morto na fronteira

Imagens mostram momento em que traficante foi morto na fronteira

Rafaat caiu em uma emboscada em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com o Brasil e que é vizinha de Ponta Porã. O traficante estava em uma caminhonete, quando foi surpreendido por um outro veículo que seguia à frente.

Pela parte traseira, um homem atirou contra Rafaat usando uma metralhadora ponto 50. A caminhonete, mesmo blindada, não resistiu ao armamento de guerra. Rafaat morreu ainda no local. Uma câmera de segurança registrou toda a ação. A investigação é da polícia paraguaia.

Em dezembro de 2017, após a conclusão da sentença no país vizinho, Pavão foi extraditado para o Brasil para cumprir pena de 17 anos e oito meses de prisão, por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Inicialmente, ele foi transferido para o Presídio Federal de Mossoró.

Em 2018, veio uma nova condenação, de 10 anos, 9 meses e 15 dias de reclusão, por tráfico internacional de drogas. Nos últimos anos, também foi transferido para as penitenciárias de Brasília e Porto Velho, onde ficou até o início do ano passado, quando voltou à capital federal.

COM G1