Ibama diz à Justiça que suspendeu compra emergencial de retardante de fogo

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou à Justiça Federal que suspendeu a compra emergencial de 20 mil litros de retardante de fogo. O produto seria utilizado em áreas de queimada no pantanal de Mato Grosso.

A substância química é misturada à água e lançada de aeronaves para conter a propagação de queimadas, mas estudos de 2018 do próprio Ibama apontam risco de contaminação do solo, da água e até dos alimentos disponíveis na região atingida .

A decisão do governo foi informada à Justiça na ação popular movida por moradores de Cavalcante, no norte de Goiás, contra o uso dos retardantes no país. A substância foi usada para combater chamas na Chapada dos Veadeiros, na última semana, sob protesto de moradores da região.

Segundo reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”, a compra do retardante seria feita em regime de urgência, sem licitação, no valor de R$ 680 mil. No documento à Justiça, o instituto diz que a aquisição “encontra-se temporariamente suspensa para melhor análise e avaliação da autarquia”.

“Informa-se, outrossim, que foram requeridos subsídios à área técnica do Ibama nesta data, a fim de apresentar os elementos necessários ao convencimento deste juízo. As informações técnicas serão elaboradas e consolidadas de forma célere como exige o presente caso”, diz o instituto.

Salles e Ibama suspendem compra de retardante de fogo

Salles e Ibama suspendem compra de retardante de fogo

Uso na Chapada dos Veadeiros

A substância Fire Limit chegou a ser jogada na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, com autorização do Ministério do Meio Ambiente para controlar o fogo que destruiu 75 mil hectares de vegetação.

O uso do retardante na Chapada dos Veadeiros causou revolta em parte dos moradores da região, já que a aplicação do retardante não é sequer autorizada em Goiás.

Na semana passada, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, visitou o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, sobrevoou a área incendiada, e fez posts manifestando apoio. O ministro disse que estava na “linha de frente” nas ações desenvolvidas para extinção, e que as críticas vinham de “meia dúzia de maconheiros”.

Relatório aponta risco

Em um relatório publicado em 2018, o Ibama informou que o produto retardante usado no combate a incêndio na Chapada dos Veadeiros pode ter efeitos adversos.

Relatórios não recomendam retardantes de incêndio da forma como foram usados na Chapada

Relatórios não recomendam retardantes de incêndio da forma como foram usados na Chapada

De acordo com o parecer, com base nos documentos apresentados pela empresa ao Ibama, o retardante foi classificado “como pouco tóxico e pouco persistente”.

O relatório detalhou que o Fire Limit foi avaliado para um processo de compra pública, “tendo de comprovar sua baixa toxicidade e periculosidade ambiental como requisitos de um edital de licitação e não para obtenção de uma licença ambiental ou autorização para uso”.

O fabricante diz que o retardante não é tóxico e é biodegradável, e é capaz de reduzir de três dias para cinco horas o tempo para a extinção de um incêndio que se alastrou por nove quilômetros.

O Centro do Ibama de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Prevfogo), porém, afirma que é preciso:

  • documentar a ocorrência de reações adversas sobre a fauna sempre que for identificada a morte de animais em áreas próximas ao local de aplicação do retardante de chama;
  • instituir a suspensão do consumo de água, pesca, caça e consumo de frutas e vegetais na região exposta ao produto pelo prazo de 40 dias;
  • e monitorar esses locais por seis meses.

“Não é possível evidenciar se caberia o uso de retardantes que possuam esses componentes em áreas como o Pantanal, Terra Indígena Xingu ou Parque Indígena Araguaia, que possuem relativa abundância de água. O mesmo questionamento é válido para áreas de Caatinga ou Cerrado com baixa disponibilidade hídrica”, diz o Prevfogo em documento de agosto.

O responsável por esses documentos foi Gabriel Zacharias, que comandava o Prevfogo. Dez dias depois do último alerta, ele foi exonerado.

O novo diretor do setor, José Carlos Mendes de Morais, assinou pareceres com orientação diferente, autorizando o uso dos retardantes. Pouco depois, pediu para deixar o cargo.

G1