Morre o ex-presidente do Uruguai Tabaré Vázquez, aos 80 anos

Morreu neste domingo (06), Tabaré Vázquez, ex-presidente do Uruguai, aos 80 anos. A morte de Vázquez, que concluiu seu segundo mandato à frente da pequena nação sul-americana há apenas nove meses, foi anunciada pela família e pela coligação que o elegeu, a Frente Ampla. O político lutava contra um câncer de pulmão.

“Com profunda dor, comunicamos o falecimento de nosso amado pai” às três da manhã “por causas naturais de sua doença oncológica”, informou em um comunicado seus filhos Álvaro, Javier e Ignacio Vázquez.

No Twitter, Álvaro Vázquez escreveu que “enquanto descansava em casa, acompanhado por alguns familiares e amigos, por causa de sua doença, Tabaré faleceu”. “Em nome da família, queremos agradecer a todos os uruguaios pelo carinho recebido por ele ao longo de tantos anos”, acrescentou.

O político, oncologista e ex-dirigente do clube de futebol local Progreso, foi o primeiro candidato da coalizão de esquerda Frente Ampla a se tornar prefeito de Montevidéu em 1989, e chegar à Presidência em 2005, quebrando com a hegemonia dos tradicionais Partido Colorado e do Partido Nacional.

Vázquez comandou o Uruguai em duas oportunidades: na primeira, entre 2005 e 2010, quando foi sucedido pelo correligionário José Mujica, e, mais recentemente, entre 2015 e 2020. No último pleito em que concorreu, em 2014, derrotou o atual presidente, o direitista Luiz Lacalle Pou. O atual dirigente se manifestou pelo Twitter nesta manhã.

“Enfrentou com coragem e serenidade sua última batalha. Tivemos momentos de diálogo pessoal e político que valorizo e me lembrarei sempre. Serviu ao país e, com base no seu esforço, obteve vitórias importantes. Foi o presidente dos uruguaios. O país está de luto. Descanse em paz, Presidente Tabaré Vázquez”, escreveu Lacalle Pou na rede social.

Agenda progressista
Vázquez nasceu em Montevidéu, no ano de 1940, em uma família pobre. Seu pai era funcionário da Ancap, estatal uruguaia do petróleo. O ex-presidente cresceu no bairro La Teja e a vivência humilde guiaria sua escolha profissional e a eventual militância que assumiria na política. 

A primeira vitória presidencial de Vázquez após duas tentativas frustradas, em 2004, foi simbólica por se dar já no primeiro turno e por representar o primeiro êxito eleitoral da esquerda uruguaia em uma disputa presidencial desde o fim da ditadura militar, em 1985. Deu-se início a um longo ciclo da legenda, que comandaria o país por 15 anos.

Neste período, a coalizão implementou uma série de políticas que marcaram época, como a legalização do aborto até as 12 semanas de gestação, a aprovação do casamento LGBT e a liberação do uso recreativo da maconha, bem como o comércio da erva. O índice de pobreza caiu de 30% para 8%.

Como a reeleição consecutiva não é permitida no Uruguai, Vázquez foi substituído pelo ex-guerrilheiro José Mujica, que venceu a disputa contra o pai de Lacalle Pou, Luiz Alberto Lacalle. Antes de chegar à Presidência, o político governou a capital do Uruguai, Montevidéu.

No seu último mandato, enfrentou desgastes em diferentes áreas, incluindo a segurança pública. Além disso, os índices econômicos tímidos e a crescente dívida uruguaia contribuíram pesaram na disputa presidencial de 2019. Mas, mesmo sob o escrutínio de três governos subsequentes, a margem de derrota da Frente Ampla, representada pela candidatura do ex-ministro Daniel Martínez, foi apertada: a diferença foi de menos de 40 mil votos.

Nos últimos dias de vida, o ex-presidente, ainda ativo politicamente, se reuniu com Mujica e Lucia Topolansky, esposa do ex-guerrilheiro e vice-presidente no governo de Vázquez entre 2017 e 2020, para discutir temas ligados à Frente Ampla.

A última entrevista do político uruguaio foi veiculada pelo programa El Legado, da emissora uruguaia Canal 10, no dia 29 de novembro. Na gravação, o ex-presidente admite que entrar na política não estava nos seus planos e falou sobre seu legado.

— Nunca aspirei seguir uma carreira política. Minha área era a medicina, voltado para questões sociais — disse Vázquez. — Quero ser lembrado como um presidente sério e responsável.

Vázquez foi diagnosticado com câncer de pulmão em 2019, ano em que também perdeu a esposa, Maria Auxiliadora Delgado, vítima de um infarto aos 82 anos. Segundo a imprensa uruguaia, seu quadro se agravou nas últimas semanas, quando foi constatada uma metástase — afetando ainda o pâncreas. O ex-presidente teria optado por não ser internado e passar seus últimos dias com a família, em sua casa.

Em um comunicado, parentes informaram que, em razão da pandemia da Covid-19, não haverá velório público e o enterro será restrito à família e à imprensa. Será realizado, no entanto, um cortejo pelas ruas de Montevidéu. A Frente Ampla convocou militantes a se despedirem de Vázquez e prestarem homenagens ao ex-presidente. 

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