Lançada em 2008, a música “Deus Me Proteja”, do cantor e compositor Chico César, 57, alcançou o primeiro lugar na Parada Viral do Spotify, há algumas semanas, após a advogada e maquiadora Juliette Freire, 31, cantar a faixa no Big Brother Brasil 21.
O músico não só comemorou o resultado como também avaliou que a volta de sua música ao topo aconteceu de forma simbólica.
“Eu já estava muito satisfeito com essa música desde que eu a gravei”, explica o paraibano, “mas, o fato de ela ter aparecido agora, na voz de uma mulher paraibana, foi bem simbólico e me deixa muito feliz”. O cantor também fala que através da canção, que é “a ponta do iceberg”, muitas pessoas podem conhecer mais de sua carreira. “Sou muito grato a Juliette”, completa.
“Deus Me Proteja”, que também tem a voz de Dominguinhos e da mãe de Chico, nasceu enquanto o músico tomava banho para ir ao forró. “A canção surgiu em cinco minutos, sem eu pensar ou planejar nada”, relembra. Para ele, abrir a torneira do chuveiro foi como “abrir a torneira da mente”, e antes de sair com os amigos, ligou para a secretária eletrônica de sua casa e gravou os versos para não esquecer.
A música foi cantada por Juliette logo na primeira semana de programa, ainda em janeiro, e depois tocou na playlist da casa quando a competidora esteve no Paredão.
Com isso, a canção ficou em primeiro lugar na lista Viral 50 Brasil do Spotify, em 17 de fevereiro. A versão ao vivo da mesma canção também apareceu, no 47º lugar, no mesmo dia.
Junto à comemoração, a assessoria do músico afirmou na ocasião que a versão do disco de 2008 cresceu 5.517% no Spotify, em dados consolidados de um mês, enquanto a versão ao vivo, presente nos extras do álbum “Estado de Poesia (Ao Vivo)”, de 2018, cresceu 352% no mesmo período. Os números foram confirmados pela plataforma de streaming.
No Deezer, a música de Chico César também cresceu após a cantoria de Juliette no BBB 21. “Deus Me Proteja” cresceu 2.200% até o dia 18 de fevereiro, na comparação com os 30 dias anteriores.
Atualmente, Chico está na produção de um álbum com o cantor Zeca Baleiro, 54, que contará com composições de ambos, todas feitas durante o período da quarentena. “Compus muito durante a pandemia, algo em torno de 100 músicas, sendo 20 dessas com o Zeca Baleiro”, afirma o artista em entrevista por telefone à Folha de S.Paulo.
Além disso, o cantor tem uma turnê marcada com o compositor Geraldo Azevedo, 76, intitulada Violivoz. Os shows irão passar pelas capitais do Nordeste, e podem incluir apresentações também no Norte e Sudeste. “Iríamos sair inicialmente em maio do ano passado”, conta, “agora, provavelmente vamos sair em turnê em agosto, eu e Geraldo Azevedo”.
Mesmo que não se considere uma pessoa religiosa, o artista diz que sua música serve para tocar pessoas além dele mesmo. “As canções são muito maiores do que as pessoas que as fazem”, explica. Chico quer que sua música transmita sensações e alcance todos que se identifiquem, “procuro passar sempre uma sensação de liberdade, de que somos seres livres e nascemos livres”.
Em seu último disco, “O Amor É Um Ato Revolucionário” (2019), o cantor explora a liberdade que transmite em suas letras na melodia das músicas. Ele aposta em faixas mais longas do que as tradicionais, e conta que “queria ter espaço para o improviso”. “Não dá para falar da liberdade sem ser livre. Como uma pessoa presa [nos minutos] vai passar a sensação de liberdade?”, questiona.
Agora, 13 anos depois do lançamento de “Deus Me Proteja”, Chico César diz que tem recebido um novo público e, junto a isso, muito carinho nas redes sociais. Ele afirma que já trabalhava mais pelo Instagram de alguns anos para cá, mas que com toda a repercussão recebe uma avalanche de comentários e interações. “Sempre faço questão de olhar cada comentário e curtir”, afirma.
Porém, o artista fala que sabe que não são todos que irão começar a acompanhar sua carreira após se identificarem com uma música, pois podem não se identificar com ele. “Continuo sendo o Chico que se posiciona, que grava poemas ‘nada a ver’, que faz loucuras na rua, que dança com um guarda-sol como se fosse uma sombrinha de Carnaval”, brinca.
O cantor comenta que reprova muitas atitudes do governo, no ponto de vista pessoal e artístico. “Quem nega a ciência, o próximo passo é negar a manifestação cultural”, explica. “Porque quem quer robôs e ‘soldadinhos’ não vai admirar as pessoas que fomentam a subjetividade, o afeto. A arte traz alegria, traz questionamento”.
Além disso, para Chico as decisões tomadas por governantes fizeram com que a situação da pandemia piorasse. “O governo é um aliado do vírus, talvez mais perigoso”, afirma. Para ele, um governo que nega a ciência e a arte acaba por se tornar uma pandemia por si só.
Apesar de sua música ter voltado às paradas por causa do BBB, Chico César diz que não assiste ao reality. Mas mesmo assim já garante sua torcida para Juliette. Para o cantor, além da questão da representatividade, “ela mostra um Brasil mais desarmado”, e isso o comove: “Eu tenho, e não vou negar, uma torcida por Juliette”.
Mas Chica César toparia entrar no reality, já que agora também têm espaço para famosos? Ele afirma que não consegue se imaginar no programa, devido à exposição e julgamentos. “Eu não sei o que seria de mim”, brinca. Para o artista, por mais que os confinados estejam lá para ser julgados, devemos pensar antes, porque “o mundo já tem ódio demais.”
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