Cobaias do fascismo

Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, um cientista extremamente respeitado internacionalmente, tuitou recentemente que “O Brasil é um laboratório a céu aberto onde se pode observar a dinâmica natural do coronavírus sem qualquer medida eficaz de contenção Todo o mundo vai testemunhar a devastação épica que o SARS-CoV-2 pode causar quando nada é feito de verdade para contê-lo”.


De fato, a semana que se encerrou ontem foi a mais letal de toda a pandemia no país, como se pode verificar no gráfico reproduzido acima, extraído do site do Ministério da Saúde. Foram 10.104 mortes causadas pela Covid-19, o que representa um aumento de 22,6% em relação à semana anterior e uma média de 1.443 óbitos por dia, um macabro recorde absoluto. 


Até o momento, pois nada indica que essa progressão trágica será revertida na semana que se inicia hoje, aniversário de morte da primeira vítima fatal da Covid-19 no Brasil , ocorrida em 12/03/2020. Afinal, seguimos com a vacinação a “conta-gotas”, a “política” de negação, omissão, desídia, indiferença, desinformação, sabotagem, chacota e transferência de responsabilidade por parte de Jair Bolsonaro e seu governo, a pusilanimidade de grande parte de governadores e prefeitos, a conivência de muitos parlamentares municipais, estaduais e federais, a complacência do poder judiciário e a incrível idiotia negacionista de milhões de brasileiros e brasileiras que insistem em não cumprir as medidas sanitárias que poderiam diminuir a transmissão do vírus, desafogar um sistema de saúde em colapso e frear a multiplicação de mortes.


Concordando com Miguel Nicolelis que o Brasil virou um grande laboratório, havemos de concluir que Bolsonaro é o “cientista-chefe” e Pazuello o seu principal assistente. Quanto a nós, somos as cobaias de um experimento fascista, pois, como denunciaram ao Mundo hoje personalidades como dom Mauro Morelli, bispo emérito de Caxias, padre Júlio Lancellotti, frei Leonardo Boff, Chico Buarque de Holanda, o próprio Nicolelis e muitos outros em Carta Aberta à Humanidade (assine aqui), “nos tornamos uma ‘câmara de gás’ a céu aberto” onde “assistimos horrorizados ao extermínio de nossa população, sobretudo dos pobres, quilombolas e indígenas”.


Até quando?

Márcio Caniello