Quem faz as contas já reparou: os preços nos supermercados estão cada vez mais altos. Em fevereiro, a inflação oficial do Brasil, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), alcançou 5,2% no acumulado em 12 meses – maior taxa para o mês desde 2016, e próxima ao teto da meta estabelecida pelo Banco Central.
Entre os itens que mais subiram no período, o óleo de soja leva o troféu, com alta de quase 90%. Limão e arroz completam o pódio, subindo 79,01% e 68,80%, respectivamente. A carne, que pesa mais no orçamento, subiu menos – 29,5% em média – mas ficou quase proibitiva para uma grande parte dos consumidores.
Se você acha que consegue colocar cada vez menos compras no carrinho do mercado, não é só uma impressão: o valor do dinheiro está ‘encolhendo’ mesmo. Especialmente na hora de comprar alimentos e bebidas.
Para demonstrar como a alta da inflação afeta diretamente no poder de compra dos brasileiros, o G1 fez uma comparação entre a quantidade máxima de itens que era possível colocar no carrinho do supermercado com R$ 200 em fevereiro de 2020 e no mesmo mês deste ano, considerando os valores médios de produtos básicos. Os preços foram divulgados por uma parceria entre o Procon-SP e o Dieese.
Foram escolhidos, a partir dos itens da cesta básica, 6 produtos entre alimentos (arroz, feijão, café, ovo, carne – ou frango, como alternativa – e leite), 2 itens de higiene (papel higiênico e creme dental) e 2 para limpeza (sabão em pó e limpador multiuso).
Carne bovina para o consumidor sobre quase seis vezes mais do que a inflação
Veja as possibilidades de compra nas ilustrações abaixo:
Poder de compra do brasileiro — Foto: Arte G1
Poder de compra – cenário 2 — Foto: Arte G1
Em 2020, era possível montar uma cesta com até 15 kg de arroz e feijão, 4 litros de leite e 2 kg de carne, além de até 12 rolos de papel higiênico e 1,5 litro de limpador multiuso.
Fazendo uma substituição da carne por frango resfriado, era possível levar para casa até 3 kg da proteína, 20 kg de arroz e feijão, 5 litros de leite e 3 unidades de cada um dos itens de limpeza e higiene.
Em fevereiro de 2021, caso a carne de primeira fosse a escolhida, era possível levar os mesmos 2 kg, mas isso exigiu cortes em outros produtos. Arroz e feijão passaram de 15 para 10 kg, as 3 dúzias de ovos viraram 2, o leite foi reduzido pela metade e só deu para 1 kg de sabão em pó.
Na compra alternativa, trocando a carne pelo frango, foi possível comprar 3 kg da ave, 3 kg de sabão em pó e o leite voltou para os 4 litros.
O vídeo abaixo mostra como, na contramão do mundo, o brasileiro terminou a última década mais pobre.
Na contramão do mundo. brasileiro termina década mais pobre
Veja abaixo as variações de preços de cada produto entre os períodos:
Veja a variação entre os preços unitários dos itens entre fevereiro de 2020 e 2021 — Foto: Arte G1
Explicações para a alta
De acordo com o Procon-SP, as variações de preços dos produtos da cesta básica aconteceram por motivos como excesso ou escassez na oferta, ou demanda, preços de commodities, variações cambiais, formação de estoques e desoneração de tributos, além de questões sazonais e climáticas.
A carne de primeira, por exemplo, passou de R$ 28,84 o quilo em fevereiro de 2020 para R$ 40,08 no mesmo mês de 2021. Isso aconteceu, segundo a fundação, pela redução na demanda, com quantidade limitada de animais para abate, somada à valorização contínua dos insumos pecuários. De acordo com o IPCA, o aumento da carne foi de 29,5% nos últimos 12 meses.
O papel higiênico passou de R$ 3,90 o pacote com 4 rolos, para R$ 4,83 na mesma quantidade. Só de janeiro de 2021 para fevereiro, o aumento foi de 6,15%, um dos maiores entre os produtos da cesta básica.
G1