Quatro homens invadiram na noite da última terça-feira (6) o estúdio de uma rádio do município de Santa Cruz do Capibaribe, no interior de Pernambuco, e ameaçaram um radialista que havia criticado a política sanitária do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O radialista Júnior Albuquerque, que comanda um programa de debate político na Rádio Comunidade FM, afirmou que foi agredido verbalmente pelo grupo que se diz defensor do presidente.
Os homens, que não tiveram os nomes revelados, invadiram o estúdio durante o intervalo do programa. Um suplente de vereador da cidade havia acabado de ser entrevistado. Não houve agressão física. “Chame, agora, a gente de genocida aqui na minha cara”, disse um deles.
Os homens foram retirados do local por pessoas que trabalham na rádio.
O radialista afirmou que, há três semanas, havia dito durante o programa que os eleitores de Bolsonaro deveriam começar a criticar a política sanitária do governo federal. Em seu comentário, acrescentou que, no futuro, a história iria mostrar que os bolsonaristas são coniventes com as mortes em decorrência da Covid-19.
Pernambuco enfrenta um colapso no sistema de saúde. De acordo com dados do governo estadual, 97% das UTIs para doentes com sintomas da Covid-19 estão ocupadas.
“Após as críticas, companheiros da rádio começaram a receber mensagens pelo WhatsApp. Eles se dizem bolsonaristas, fazem parte da direita aqui no município”, diz Albuquerque.
Momentos após a invasão, o radialista prestou queixa na delegacia. A Polícia Civil abriu inquérito para apurar o caso.
Albuquerque, que também é secretário de Imprensa no município vizinho de Taquaritinga do Norte (PE), comanda há três anos o programa de debate político.
Santa Cruz do Capibaribe, com pouco mais de 100 mil habitantes, foi a única cidade de Pernambuco que deu vitória a Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial de 2018.
Em nota, a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) condenou a invasão da rádio.
“É preciso dar um basta nesse comportamento criminoso. A democracia pressupõe o direito de crítica e é obrigação das autoridades a garantia do exercício desse direito. É preciso que Bolsonaro não só pare de estimular as violências contra jornalistas, como as condene de forma explícita. Caso contrário, será acusado de cumplicidade.”
A Asserpe (Associação das Empresas de Rádio e Televisão de Pernambuco), em nota, disse que “espera resposta a altura em virtude da gravidade do incidente pelas autoridades que investigam o caso”.
O Sinjope (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco) também criticou o episódio.
“O Sinjope recrimina de maneira inflexível qualquer ataque a liberdade de imprensa e espera que o caso seja investigado pelas autoridades policiais do Estado. A liberdade de imprensa é fundamental para manutenção da democracia.”
FOLHAPRESS