O trabalho da CPI da Covid no Senado, que vem fustigando o governo Jair Bolsonaro, é visto como regular por 37% dos brasileiros. Já 30% o aprovam, e 26% o reprovam.
Os dados estão na mais recente pesquisa nacional do Instituto Datafolha, feita quarta (7) e quinta-feira (8) da semana passada, com 2.074 pessoas. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
Não souberam opinar sobre os acalorados debates que se tornaram programa obrigatório para quem acompanha política 7% dos entrevistados.
A primeira sessão da comissão, na qual senadores oposicionistas ou ditos independentes dominam os trabalhos, ocorreu em 4 de maio.
Ela inicialmente se debruçou sobre as origens do manejo desastroso da emergência do novo coronavírus pelo governo, buscando estabelecer uma linha do tempo. Focou assim na promoção da hidroxicloroquina e outros remédios sem eficácia para a Covid-19, além da retórica da propaganda oficial.
Aos poucos, deslocou seu eixo para o tema das vacinas, em especial a sistemática dificuldade apresentada à Pfizer e ao Instituto Butantan para negociar seus imunizantes.
Esta seara prosperou e a CPI mudou de patamar na semana retrasada, quando deu holofote à dupla de irmãos Miranda, o deputado federal Luis (DEM-DF) e o servidor da Saúde Luis Ricardo.
Eles detalharam a estranha celeridade e pontos suspeitos do contrato pela compra da vacina indiana Covaxin, e o parlamentar disse que o presidente havia lhe dito que aquilo era “rolo” de Ricardo Barros (PP-PR), seu líder na Câmara.
O STF (Supremo Tribunal Federal) acabou abrindo um inquérito para descobrir se Bolsonaro prevaricou, e Barros, que nega irregularidades, irá à CPI. Bolsonaro xingou a comissão quando questionado por que não confirmava ou negava o relato de Miranda.
Na esteira disso, uma teia de traficâncias nebulosas acerca de vacinas vem sendo desfiada, envolvendo um grupo de militares que circundava a gestão do general Eduardo Pazuello na Saúde.
O carimbo de corrupção, como o próprio Datafolha atesta nesta rodada, pegou no governo, que tinha a suposta honestidade como um de seus pontos de venda.
O Planalto nega malfeitos e aponta para os comandantes da CPI, o presidente Omar Aziz (PSD-AM) e principalmente o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), como figuras que não teriam autoridade moral para investigá-los.
Na tumultuada sessão da quarta passada (7), o depoente Roberto Dias, demitido da Saúde por suspeita de envolvimento no esquema, acabou preso, acusado de perjúrio pro Aziz — foi solto a seguir sob fiança.
Nesta cacofonia, os mais jovens, de 16 a 24 anos, são aqueles que mais consideram a CPI regular: 48%. Aprovam mais os trabalhos, com 35% de ótimo e bom, quem cursou até o ensino fundamental. E a reprovam, 33% de ruim e péssimo, os entrevistados que ganham de 5 a 10 salários mínimos.
O barulho ampliou o conhecimento da população sobre a comissão. Em pesquisa anterior, de 11 e 13 de maio, o Datafolha havia aferido que 52% das pessoas conheciam a CPI.
Agora, esse número é de 63%, dos quais 20% se consideram bem informados, 34% medianamente e 10%, mal.
Tal proximidade com o tema aumenta conforme critérios de instrução e renda. Entre os que têm curso superior, 89% conhecem a CPI, número que vai a 91% no grupo dos mais ricos.
O trabalho segue, e tem buscado estabelecer a cadeia de comando de eventuais crimes até o Planalto. Não por acaso, achados da CPI foram integrados ao superpedido de impeachment protocolado na Câmara, sobre o qual se senta um aliado de Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).