Um relatório da Universidade Harvard reforça que alterações humanas no uso da terra e a destruição de florestas tropicais são fatores que podem aumentar as chances de surgimento de doenças com potencial pandêmico.
Os pesquisadores apontam a conservação ambiental como uma das estratégias para evitar novas doenças.
O Harvard Global Health Institute e o Center for Climate, Health, and the Global Environment, da escola de saúde pública de Harvard, reuniram pesquisadores para analisar a literatura científica disponível até o momento e apontar caminhos para prevenção de novas pandemias.
Um dos pontos citados diretamente pelo relatório é o desmatamento. Os cientistas apontam como exemplo o aumento, após processos de desmate na América Central, de roedores como reservatórios de hantavírus – que, em caso de contaminação de humanos, pode levar à síndrome pulmonar por hantavírus.
A expansão de áreas agricultáveis também está ligada ao surgimento de novas doenças. Isso ocorre, afirmam os pesquisadores, pelo potencial de tal ação aproximar humanos a rebanhos de animais silvestres.
“Cerca de 22% da área terrestre em hotspots de biodiversidade, muitas vezes sobrepostos a hotspots de doenças emergentes, é ameaçada por expansão agrícola”, afirma o documento.
O relatório aponta que processos de urbanização descontrolados e sem planejamento podem ter um papel no surgimento de doenças, pelas mudanças no uso de terra e por possíveis grandes concentrações de pessoas e condições de vida ruins.
Há ainda fazendas de animais como outro ponto importante em eventos de spillover, ou transbordamento, em tradução do inglês, de zoonoses – basicamente, quando um vírus salta de uma espécie para uma nova, como para humanos. Os pesquisadores apontam a baixa diversidade genética e o elevado número de animais mantidos em alguns desses locais.
Os cientistas dão como exemplo a transmissão – inicialmente entre suínos e depois para trabalhadores agrícolas – do vírus nipah, na Malásia, em fazendas de porcos com altas concentrações de animais.
Além disso, a caça, o consumo e o comércio de animais selvagens também podem provocar o spillover.
A crise climática é mais um fator que deve impactar nos riscos de aparecimento de novas doenças no mundo, considerando as alterações que ocorrerão em ecossistemas.
Segundo os pesquisadores, existe a possibilidade de habitats adequados para espécies diminuírem, o que poderia promover mais encontros entre vida selvagem e humanos, e, com isso, mais eventos de spillover.
“A redução de habitats e disponibilidade de néctar para morcegos, por exemplo, têm pressionado esses animais a buscar fontes alternativas de alimento em áreas urbanas e arredores”, afirmam os cientistas no relatório.
Por fim, os pesquisadores convocados por Harvard apontam estratégias para evitar eventos de spillover. A conservação ambiental é a primeira a ser destacada no relatório.
Outras estratégias listadas são restrições ao consumo de animais selvagens, investigações sobre vírus na vida selvagem e uma rede global de vigilância de patógenos em humanos, animais criados para abate e vida silvestre, entre outras iniciativas.
Segundo o documento, são baixos os investimentos destinados a impedir spillover.
“Não mais do que US$ 4 bilhões [R$ 21,5 bilhões] são gastos a cada ano em todo o mundo em atividades de prevenção de transbordamento. A Covid-19 sozinha resultou em uma perda de PIB global estimada em US$ 4 trilhões [R$ 21,5 trilhões], ou cerca de US$ 40 bilhões [R$ 215 bilhões] por ano durante um século”, aponta o relatório.
FolhaPress