UFPB desenvolve gel à base de coentro para tratamento de infecções fúngicas na boca

Um item indispensável na culinária nordestina poderá virar remédio para curar infecções na boca. Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) trabalham na formulação de gel para o tratamento de infecções fúngicas na boca, à base de óleo essencial do coentro (Coriandrum sativum L.), planta de fácil cultivo, adaptada às condições geográficas brasileiras e amplamente utilizada na culinária do Nordeste brasileiro.

Segundo o professor do Departamento de Clínica e Odontologia Social da UFPB e coordenador do projeto de pesquisa, Ricardo Dias de Castro, infecções bucais causadas por espécies do fungo Candida, mais conhecidas como sapinho, são comuns especialmente em indivíduos com quadro de imunodepressão, ou seja, com sistema imunológico enfraquecido.

De acordo com Ricardo Dias de Castro, a exploração do coentro com finalidade medicinal representa importante estratégia para promoção do desenvolvimento econômico e social regional. Nos testes, serão usadas matérias-primas obtidas de produtor rural da região de Campina Grande, no Agreste da Paraíba, e de produto industrial. Para isso, serão realizados testes de controle de qualidade dos insumos para garantir padronização e segurança.

A pesquisa contará com as etapas de coleta, identificação botânica e análise química do óleo essencial do coentro. Também serão executados testes laboratoriais em culturas de células para avaliar o efeito antifúngico e a citotoxicidade em células humanas. Do mesmo modo, haverá o estudo de toxicidade com animais invertebrados e mamíferos e realização de ensaio clínico de Fase I, com humanos saudáveis, para avaliação de segurança e tolerabilidade.

Ricardo Dias de Castro explica que essas etapas são fundamentais para sustentar uma hipótese de uso clínico em pacientes com a doença. “Nossa pesquisa poderá ampliar o arsenal terapêutico para o tratamento de candidoses bucais e justificar a elaboração de estudos de ensaio clínico controlado randomizado Fase II, desempenhados com pacientes doentes”, afirma o pesquisador da UFPB.

O intuito é que o projeto de pesquisa resulte na proposta de um novo produto farmacêutico com aplicação em odontologia, para tratamento de infecções fúngicas bucais, possibilitando, portanto, a inovação tecnológica e depósito de patente. Posteriormente, o produto poderá fazer parte de portfólio de startup ou ser comercializado pela Agência UFPB de Inovação Tecnológica (Inova UFPB).

Enquanto o produto não fica pronto, Ricardo Dias de Castro recomenda que pessoas que têm infecções fúngicas na boca devem procurar as Unidades de Saúde da Família (USF), vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), para consulta com dentista.

“Este profissional ajudará com recomendações para uso de medicamento, limpeza de prótese dentária, se o paciente fizer uso, e higiene adequada da boca. Nesses casos, é necessário que a pessoa doente seja acompanhada, com agendamento de consultas, até sua completa melhora, pois a infecção, muitas vezes, é de difícil tratamento”, esclarece o professor da UFPB.

O projeto de pesquisa foi aprovado pela Chamada Interna 03/2020 de Produtividade em Pesquisa da Pró-reitoria de Pesquisa (Propesq) e da Pró-reitoria de Pós-graduação (PRPG) da UFPB e pelo Edital nº09/2021 de Demanda Universal da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq), com recursos totais na ordem de R$ 81 mil.

Na UFPB, também participam do estudo os professores André Batista e Adriano Alves, respectivamente, do Departamento de Odontologia Restauradora e do Departamento de Fisiologia e Patologia; a cirurgiã-dentista Danielle Alves, do Departamento de Clínica e Odontologia Social; e David Barbosa, estudante do curso de mestrado do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos.

A pesquisa é desenvolvida em parceria com os professores Pedro Rosalen, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, da Universidade de Campinas (Unicamp); Severino Matias de Alencar, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP); e Bruno Bueno-Silva, da Universidade de Guarulhos.

A pesquisa está em andamento, tem previsão de conclusão em 2024 e é desenvolvida no Laboratório de Farmacologia Experimental e Cultivo Celular do Centro de Ciências da Saúde (CCS), no campus I da UFPB, em João Pessoa.

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