Praças públicas se tornam espaços ocupados por criminosos em João Pessoa

Frequentadores das praças que polarizam as regiões Sul, Norte e Oeste de João Pessoa denunciam que os espaços, que deveriam ser para o uso das comunidades, estão se tornando territórios ocupados por criminosos, restringindo os horários para os cidadãos de bem, que não querem se expor à bandidagem.

Cinco praças (da Paz, Coqueiral, da Juventude, Caju e Silvio Porto),  foram visitadas pela reportagem do Correio e “violência” foi a resposta mais usada pelos usuários, quando perguntados sobre o que consideravam o principal problema da praça que frequentam. O tipo de violência varia de acordo com a região. O uso de drogas de forma aberta, em qualquer hora do dia é comum em todas as praças. No entanto, algumas estão marcadas pelo tráfico, enquanto outras se tornaram palcos de confrontos armados e assassinatos. Todas são marcadas pela ausência das forças de segurança. Em algumas, a falta de manutenção cria oportunidade aos bandidos, a exemplo da escuridão que toma conta da Praça Sílvio Porto, em Manaíra. No local, as árvores se poda se encontram no alto e impedem a passagem da iluminação dos postes, transformando o local em um ambiente sombrio, favorável aos assaltantes.

Associação quer limite de horários para quiosques nos Bancários

Um dos fatores motivadores da violência da na Praça da Paz, no Bancários, segundo os frequentadores, é o fato de não existir limite para o horário de funcionamento dos quiosques. “As noitadas de bebedeira e droga aqui, até 7 horas ou mais da manhã seguinte, todos os dias da semana, viram um atrativo para esse tipo de gente. Qualquer dia da semana que você passar por aqui vai ver gente bebendo nos quiosques, alguns alternando bebida e saindo para se drogar em baixo das árvores”, disse um integrante da Associação dos Moradores dos Bancários (AMCBU), que não quis ser identificado.

Segundo o associado, em várias reuniões entre a AMCBU e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedurb) foi discutido o cumprimento de um horário pactuado com os comerciantes, que é de funcionamento até meia noite de segunda a quinta-feira e até 2h, entre a sexta-feira e o domingo. “Os próprios representantes da Sedurb dizem que não conseguem fazer os comerciantes fecharem cedo. Acho que se começasse a aplicar uma multa, algo do tipo, talvez funcione”, acrescentou. A assessoria de imprensa da Sedurb informou que vários acordos já foram feitos com os comerciantes, mas foram descumpridos e que a secretaria estuda uma solução para o problema.

Crimes registrados na Praça da Paz

– Março de 2006 – Lavador de carros morto a pedradas, enquanto dormir em baixo de uma árvore da praça. O suspeito é outro lavador de carros, que também trabalhava na praça e que teria agido sob influência de drogas, para vingar briga entre os dois.

– Julho de 2014 – Homem morto enquanto bebia em um quiosque, ao final de uma noitada. Foi atacado por três homens que bebiam no quiosque ao lado. Um dos suspeitos atirou na cabeça da vítima, que também sofreu uma facada.

– Setembro de 2006 – Apenas três meses após a inauguração da praça. Homem morto a tiros quando estava sentado em um banco da praça, ao lado de uma mulher. Foi atacado por outro homem que se aproximou, atirou e fugiu.

Junho de 2017– Simone Silva Vasconcelos, de 27 anos, morta a facadas, após ser espancada. O suspeito continua foragido.

Prisão de traficante

A venda e o consumo de droga, à vista de todos, também preocupa os usuários da praça do Caju, no Bessa. Eles lembraram da prisão de um traficante, que foi flagrado armado com um revólver, vendendo droga na arquibancada que fica na lateral da quadra. “Ele foi pego em uma ação de coragem de um policial militar que veio aqui, fez a prisão e mostrou para todos nós aqui. Quando tomou a arma do suspeito e revisou o lugar onde ele estava encontrou um pacote com muita droga, que estava sendo vendida”, disse um morador. Mesmo com a prisão, o tráfico não acabou no local.

A venda de drogas na praça, na opinião dos moradores, é consequência da presença dos usuários, que se drogam na próprio local, sem se importar coma presença das pessoas que passam ao lado. “É uma questão de oferta e procura. Quase todos os dias a gente vê os caras fumando aqui. Ninguém pode fazer nada. Não vamos bater de frente com eles né. Quem deveria fazer era a polícia. Tivemos essa prisão, mas foi a única. Em outros dias a droga rola solta aqui”, reclamou o mesmo morador.

Quadra sem equipamentos de contenção

Outro problema relatado pelos usuários da Praça do Caju tem relação com a infraestrutura. É que a quadra poliesportiva fica ao lado de estabelecimentos que trabalham com alimentos e bebidas. “Não existe uma rede de contenção alta, para parar as bolas, como há em outras praças daqui da região. Já aconteceram vários casos de pessoas estarem se alimentando nas mesas e a bola cair dentro do prato. Naquela barraca que vende pastel frito na hora, uma bola caiu dentro da bacia de óleo quente, que espirrou e queimou a moça que estava trabalhando. Fora isso, os brinquedos que as crianças usam estão muito danificados, com pontas de ferro expostas. Já tivemos vários acidentes com isso aqui”, disse o morador José Roberto Batista.

Falta policiamento em todas as praças

Uma queixa recorrente dos frequentadores das praças de João Pessoa é inconstância ou a total ausência de policiamento preventivo nos locais. No centro da praça Sílvio Porto, uma estrutura de alvenaria e portas fechadas é apenas lembrança do que um dia foi uma base de polícia. “Isso aqui era um posto policial, mas está fechado há mais de três anos. Hoje, os policiais militares que vemos por aqui são os que vivem à disposição dos desembargadores que moram nesse prédio aqui em frente, trabalhando como seguranças, quando vêm buscar e deixar o magistrado em casa. Ficam um tempo ali em frente, dentro das viaturas, mas não atuam na segurança da praça. Fora isso não há polícia nenhuma por aqui”, disse o anônimo servidor público aposentado.

O comandante do policiamento metropolitano da Capital, tenente coronel Lívio Sérgio Delgado, disse que o policiamento das praças é um trabalho da Guarda Municipal e que não existe uma patrulha específica de praças, na Polícia Militar. “Essa função é de atribuição do município. Em vários estados, a exemplo de São Paulo, os guardas civis andam armados, fazem policiamento das praças, prendem, conduzem suspeitos e dão conta do serviço. Aqui, pelo que sabemos, a Guarda se prepara para trabalhar armada em breve e deve fazer esse trabalho”, disse. Segundo o oficial, a PM pode atuar nas praças, mas em situações em que a Guarda Municipal pedir reforço ou para situações ou denúncias específicas.

Guarda Municipal retirada após ameaça de bandidos

A violência nas praças de João Pessoa tem crescido ao ponto de assustar não apenas os usuários, mas até mesmo os profissionais de segurança. A Guarda Civil Municipal foi retirada de algumas delas, após situações de risco e ameaça de bandidos. A retirada dos guardas foi confirmada pelo secretário de Segurança Urbana e Cidadania, Geraldo Amorim. “Um exemplo disso aconteceu na praça Sílvio Porto, em Manaíra. Depois que alguns suspeitos foram presos por lá, tomamos conhecimento de ameaças feitas por bandidos de uma comunidade próxima, que disseram que se encontrassem um guarda municipal na praça, iriam matá-lo. Não iríamos deixar um guarda desarmado exposto a uma situação dessa”, afirmou.

Amorim lembrou outro episódio de violência, que expôs a vida dos guardas municipais. “Eu tinha esse pensamento de que o guarda não precisava usar arma, mas depois que vi um homem ser assassinado nos pés dos nossos guardas, na praça da Amizade (bairro do Rangel), mudei de pensamento. Retiramos os guardas de lá também”, acrescentou.

Guarda Civil se prepara para trabalhar armada

Para retomar o patrulhamento nas praças, os guardas civis estão sendo preparados para usar armas. “Terminamos agora em julho o treinamento, com 100 horas/aula, conforme exige a legislação, para um grupo de 140 guardas civis. Agora estamos encaminhando a documentação para a Polícia Federal, para análise e expedição dos portes de arma. Eles usarão pistolas e revólveres. Acreditamos que terá um efeito positivo no combate a essa violência nas praças, porque já vimos isso acontecer no Parque da Lagoa e em outras regiões do Centro da cidade, onde estamos presente com maior efetivo, com viaturas e bases de apoio, além de um sistema de monitoramento com 20 câmeras”, explicou Geraldo Amorim.

Ações da Sedurb

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento urbano (Sedurb) informou que faz manutenção periódica em todas as praças de João Pessoa, com poda de árvores, recuperação do paisagismo e concerto de estruturas. De acordo com a assessoria de imprensa, as demandas seguem um calendário de problemas identificados pela própria Sedurb, mas também pode atender a solicitações da população, através do telefone 3218-9151.

 CARIRI EM AÇÃOCom Correio da Paraíba /Foto: Google

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