Em uma semana, o dólar já acumula queda de 4,71%, além de ficar abaixo da barreira psicológica dos R$ 5. Nesta terça-feira (22), a moeda norte-americana fechou a R$ 4,9153, o menor patamar desde 24 de junho de 2021 (R$ 4,9062).
A sequência de quedas vem desde a última quarta-feira (16). No acumulado deste ano, a desvalorização da moeda norte-americana é de 11,80%.
Entre os motivos, estão a alta das commodities (bens primários com cotação internacional) e a elevação da taxa de juros, que têm estimulado a entrada de investimentos no Brasil.
Os preços de várias commodities dispararam desde o fim de fevereiro, com a ameaça de queda da oferta desse tipo de produto, após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Para barrar a inflação, a taxa básica de juros da economia já chegou a 11,75% ao ano. A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, revela que a Selic pode aumentar além de 12,75% ao ano, caso seja necessário.
“A valorização das commodities, já que o Brasil é um grande exportador de produtos agrícolas e minerais, está atraindo investimentos ao país. Além disso, há a elevação da taxa de juros, que está entre as mais altas do mundo, só perdendo para a Rússia, em termos de taxa nominal de juros, a Selic. Com isso, o investidor tem um grande retorno aqui dentro e está trazendo dinheiro. Mas, da mesma forma que entra, pode sair”, afirma Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
A tendência do dólar, segundo ele, seria uma alta frente a essa insegurança que estamos vivendo, ano de eleições, incertezas políticas, questão externa da guerra na Ucrânia, a subida dos preços dos combustíveis, tudo isso seria motivo para a elevação da cotação. Por isso, ele acredita que o dólar vai subir daqui para a frente.
Oliveira recomenda a compra da moeda como reserva de valor, e não como investimento, por ser muito volátil, com risco de elevação a qualquer momento. “A não ser que a pessoa efetivamente tenha dívida em dólar, ou terá algum gasto em dólar ou vá viajar para o exterior. Nesse caso, é um bom momento para comprar a moeda norte-americana, que está mais baixa”, orienta o diretor da Anefac.
Mas pensar como investimento, segundo ele, não chega a ser uma boa alternativa, porque há muita incerteza em relação ao futuro. “A tendência é que o dólar volte a se valorizar mais para a frente. Com a inflação alta no mundo inteiro, o banco central desses países está subindo os juros. Esse movimento para conter a inflação vai fazer com que o investidor tire o dinheiro do Brasil e leve para locais considerados ‘portos seguros’. Quando isso acontece, o dólar acaba subindo muito.”
Para o diretor de câmbio da Ourominas, Mauriciano Cavalcante, a expectativa ainda é de queda na cotação da moeda e, na pior das hipóteses, de estabilidade na faixa dos R$ 5. Mas ele considera difícil falar de momento de compra ou venda. “O que recomendamos é a opção de comprar sempre que a pessoa tiver reservas, fazendo uma média”, afirma Cavalcante.
Ele também considera que a alta dos juros é um atrativo para o retorno de investimento, mesmo com o risco Brasil. “As commodities do globo tiveram valorização fora do comum, com o Brasil sendo um grande exportador. Com isso, as expectativas de recorde de exportações são bem plausíveis, assim como a entrada de recursos externos”, afirma Cavalcante.
O CEO da iHUB Investimentos, Paulo Cunha, destaca que a conjuntura macroeconômica está bastante favorável à valorização do real. “O preço das commodities vinha subindo bastante por questões de estímulos monetários e até por falta de alguns itens, como petróleo, minério de ferro e alimentos, como trigo, soja etc. Como o Brasil é um grande exportador dessas matérias-primas, naturalmente a balança de pagamentos acaba sendo mais favorável, e isso ingressa recursos em nosso país”, afirma Cunha.
Ele também afirma que com os juros baixos até março do ano passado, era muito mais vantajoso aplicar em uma moeda forte como o dólar. Por isso, o real era depreciado em relação à divisa americana. A elevação da taxa Selic, que atingiu 11,75% ao ano, acabou virando um diferencial. “Esse diferencial torna o real muito atrativo agora. O simples fato de aplicar em real traz um ‘prêmio’ de 10% ao ano de rentabilidade para o investidor”, avalia.
R7