A percepção de que a corrupção no Brasil vai aumentar daqui para a frente teve nova elevação, segundo pesquisa Datafolha realizada na terça (22) e quarta-feira (23). Um percentual de 53% dos entrevistados fez coro a essa avaliação, ante 36% na sondagem anterior, em dezembro de 2021.
Outros 17% acham que os casos vão diminuir e 26% pensam que ficarão como estão; 4% não sabem. O levantamento foi feito em meio às denúncias que atingem o Ministério da Educação sob o governo Jair Bolsonaro (PL), com suspeita de envolvimento de pastores em um esquema de propina.
Com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos, a pesquisa ouviu 2.556 pessoas acima de 16 anos, em 181 cidades de todo o país, e está registrada no TSE sob o número BR-08967/2022.
Os números, colhidos pelo instituto junto com questões sobre a avaliação do governo (que teve queda na reprovação) e as principais preocupações do brasileiro (saúde e economia no topo), mostram uma guinada na comparação com os retratados pelo instituto em dezembro.
Naquela ocasião, o patamar dos que acreditavam em aumento da corrupção no futuro tinha despencado em relação ao levantamento anterior, de setembro (de 61% para 36%). Foi o menor nível desde o início da gestão Bolsonaro.
Na mesma toada, a parcela dos que esperavam diminuição havia subido (de 11% em setembro para 30% em dezembro).
O salto de agora mostra um pessimismo maior, com mais da metade (53%) aguardando piora no cenário, mas ainda distante do pico alcançado em março de 2021 (67%).
Naquela época, além da aliança do presidente com o centrão, o noticiário estava salpicado de revelações sobre os esquemas de “rachadinhas” da família Bolsonaro e o episódio da nebulosa compra de uma mansão de R$ 6 milhões por seu filho Flávio, senador pelo PL-RJ.
Em campanha à reeleição, ameaçada hoje pela liderança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas, Bolsonaro repete quase diariamente que seu governo não tem casos de corrupção, discurso que ficou abalado nos últimos dias pela crise no MEC.
As entrevistas da pesquisa começaram na terça, quatro dias após a publicação das primeiras denúncias sobre a atuação e a influência dos pastores em liberações de verbas na pasta que era comandada por Milton Ribeiro. O tema, entretanto, não fazia parte diretamente do questionário aplicado pelo instituto.
Na segunda-feira (21), a Folha revelou um áudio em que o então titular do ministério mencionava um pedido de Bolsonaro para priorizar amigos do pastor Gilmar Santos, que não ocupa cargo público, e falava em apoios, supostamente direcionados para construção de igrejas.
O Planalto montou uma estratégia para se descolar do escândalo. O presidente disse que “bota a cara toda no fogo” pelo ministro e afirmou que o auxiliar é vítima de covardia. Ele resistiu a demitir Ribeiro, que acabou exonerado do cargo nesta segunda-feira (28) para tentar reduzir o desgaste do governo.
A Polícia Federal abriu na sexta-feira (25) dois inquéritos que miram o esquema, um para apurar o papel dos pastores — um dos casos incluiria o pedido de 1 kg de ouro em troca de repasses — e outro sobre a eventual participação de Ribeiro. Ele, que também é pastor, nega envolvimento.
Neste domingo (27), em evento do PL com clima de campanha que desafiou a legislação sobre propaganda eleitoral antecipada, Bolsonaro não fez menções diretas ao ministro, mas afirmou que “buscam qualquer gota d’água para transformar num tsunami”.
“Todos nós somos humanos. Podemos errar. Quem nunca errou que está na plataforma neste momento?”, disse no palanque, ao lado de parlamentares, ministros e apoiadores.
Segundo o Datafolha, a expectativa do aumento de corrupção, que na média geral está em 53%, é ainda maior entre mulheres (58%), pessoas com ensino fundamental (59%) e quem ganha até dois salários mínimos (59%). É menor, contudo, entre os que recebem mais de dez salários (38%).
Já a avaliação sobre diminuição de malfeitos, de 17% na média, é superior entre homens (20%), quem tem ensino superior (20%) e pessoas com renda acima de dez salários (26%). E tem menos adesão entre jovens de 16 a 24 anos (14%), por exemplo.
A corrupção, que, no auge da Operação Lava Jato, entre 2015 e 2017, chegou a ser apontada como o principal problema do país, com menções na casa dos 35%, hoje é citada por apenas 5% dos ouvidos pelo Datafolha. Saúde (22%) e economia (15%) são as maiores preocupações atualmente.
Bolsonaro anunciou em 2020 que acabou “com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo”. O número de prisões efetuadas pela Polícia Federal no âmbito de operações de combate à corrupção vem caindo desde o início do governo do presidente.
Entre 2021 e 2019, a queda foi de 66%. As prisões despencaram sobretudo na gestão do agora ex-diretor da PF Paulo Maiurino, substituído no mês passado no comando da corporação por Márcio Nunes de Oliveira. Foi a quinta nomeação ao cargo feita pela atual gestão federal.
Embora tenha seu governo avaliado como ruim ou péssimo por 46%, Bolsonaro teve melhora nesse quesito, já que em dezembro o percentual era de 53%. A aprovação oscilou positivamente de 22% para 25%, o que ajuda a explicar a melhoria relativa de sua intenção de voto nas eleições.
Na tentativa de reconquistar eleitores que o apoiaram em 2018 e se distanciaram, o atual mandatário usará o tema da corrupção, como os desvios na Petrobras nas gestões anteriores, para tentar reavivar o antipetismo e recuperar o espaço perdido para o partido de Lula.
O petista alcançou no cenário de primeiro turno 43% das intenções de voto, ante 26% do presidente. Na rodada anterior do Datafolha, Lula oscilava de 47% a 48%, e Bolsonaro possuía de 21% a 22%.
FolhaPress