O preço por ação na oferta da Eletrobras foi definido em R$ 42, segundo comunicado divulgado nesta sexta-feira (10) pela companhia. A operação irá resultar na privatização da maior empresa do setor elétrico brasileiro.
“O preço por ação foi fixado em R$ 42, “perfazendo o montante total de R$ 29.294.027.952,00”, informou a Eletrobras.
O total da operação pode chegar a R$ 33,68 bilhões, considerando o lote suplementar de até 15% das ações da oferta inicial.
Trata-se da maior oferta de ações na Bolsa brasileira desde a megacapitalização da Petrobras, realizada em 2010.
O preço por ação ficou um pouco abaixo da cotação de fechamento da ELET3 na bolsa nesta quinta, que foi de R$ 43,04.
O governo decidiu privatizar a Eletrobras, a principal empresa do setor elétrico brasileiro. Para isso, irá emitir novas ações e, assim, reduzir a participação da União na empresa. A participação dos União na elétrica deve cair de 72% a cerca de 45%.
A oferta primária (de novos papéis) será de, inicialmente, 627.675.340 milhões de ações. A oferta secundária (papéis já existentes) será de 69.801.516 milhões de ações do BNDESPar. Segundo o prospecto, a operação poderá ter lote suplementar de até 15% das ações da oferta inicial. O comunicado da Eletrobras divulgado pela Eletrobras, porém, não dá detalhes sobre a oferta para o lote suplementar.
A Eletrobras informou no comunicado que obterá com a oferta primária R$ 26,267 bilhões, e revelou que o preço mínimo tinha sido fixado pelo governo em R$ 22,057 bilhões.
O início das negociações das ações na B3 será na próxima segunda-feira (13).
O prazo para os investidores manifestarem a intenção de compra e reserva de ações teve início na última sexta-feira (3) e se encerrou nesta quarta-feira (8). A oferta foi aberta para investidores grandes nacionais e estrangeiros e a demanda também foi abastecida com recursos do FGTS. O governo autorizou o uso de até 50% do valor da conta vinculada ao FGTS para trabalhadores participarem da operação.
Como funciona a privatização da Eletrobras?
O governo optou por realizar a privatização por meio de uma capitalização: a União vai oferecer novas ações da Eletrobras na bolsa de valores e, com isso, deixará de ser sua acionista controladora. A parcela do governo na empresa deve cair para 45% de participação.
A União terá ação preferencial de classe especial, a “golden share”, que dará poder de veto nas deliberações sobre o estatuto social da empresa. Isso significa que, mesmo após perder o controle majoritário, o governo seguirá com poder de veto para determinadas decisões da Eletrobras.
Para onde vai o dinheiro da privatização da Eletrobras?
Se ocorrer como previsto, a privatização deve movimentar R$ 67 bilhões ao longo dos próximos anos — dos quais R$ 25,3 bilhões irão direto para o caixa do governo.
Outros 32 bilhões serão destinados à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para atenuar os reajustes tarifários e subsidiar políticas setoriais.
Quem poderá comprar as ações da Eletrobras?
A compra das ações será liberada a investidores institucionais e pessoas físicas. Trabalhadores podem comprar usando o dinheiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), assim como aconteceu com as ações da Petrobras e da Vale.
Quem pode comprar usando o FGTS?
Trabalhadores de qualquer setor que tenham recursos no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) poderão utilizar parte desse saldo para comprar ações da Eletrobras. A compra se dará pelos chamados “fundos mútuos de privatização”, dispositivo criado nos anos 2000 que já foi usado pelo governo na venda de papéis de outras estatais.
Vou conseguir investir até o limite?
É possível que não. Se a procura for maior que o número de ações disponíveis, vai ser feito um rateio.
Será possível resgatar a qualquer momento?
Para quem investir com recursos do FGTS, será preciso esperar pelo menos 12 meses para pedir o resgate das ações. O dinheiro então voltará obrigatoriamente para a conta do FGTS do trabalhador, que só poderá sacar nas condições previstas em lei, como demissão sem justa causa, aposentadoria e aquisição de imóvel, entre outras.
Quais as características dos papéis das elétricas?
Atualmente, há mais de 30 empresas do setor de energia listadas na B3. As empresas atuam nos setores de geração, transmissão e distribuição, podendo atuar em mais de um. A Eletrobras, por exemplo, atua tanto na geração quanto na transmissão.
Os papéis das elétricas são considerados menos arriscados por envolver empresas com contratos longos de concessão e por se tratar de um serviço essencial. Por terem receitas, margens e lucros mais previsíveis, são consideradas porto-seguro em momentos de crise e boas pagadoras de dividendos.
O país continua demandando investimentos robustos no setor. No Brasil, o sistema nacional ainda é muito dependente da geração de energia das hidrelétricas, mas vem registrando um avanço da energia eólica e solar, em meio à necessidade de ampliação do modelo de produção mais sustentáveis.
Qual é a diferença entre os tipos de ação? Qual vai ser oferecida?
Há dois tipos de ação da companhia: ELET3 e ELET6. A primeira, terminada em 3, corresponde às ações ordinárias, que dão direito a voto. “Além disso, em caso de venda da empresa, esse tipo de papel também garante ao acionista parte do valor obtido pela negociação”, explica Fabio Louzada, analista CNPI e fundador da escola de educação financeira Eu me banco.
Já a ELET6 corresponde às ações preferenciais da classe B. Isso significa que quem as compra tem preferência no recebimento de dividendos. Por outro lado, elas não dão direito a voto.
Nesta oferta inicial, apenas as ações ordinárias estão disponíveis. “Serão vendidas as ações ELET3, pois assim a União abrirá mão do controle, privatizando a companhia via oferta de ações”, diz o economista.
Quanto vale a Eletrobras?
O valor de mercado atual da Eletrobras é de R$ 65,7 bilhões, considerando a cotação de fechamento das ações no dia 3 de junho. O valor representa um salto de 25,7% na comparação com o fechamento de 2021. A máxima histórica foi registrada em junho de 2021, quando a companhia foi avaliada na Bolsa em R$ 74,5 bilhões, segundo dados da provedora de informações financeiras Economatica.
Essa valorização recente foi especulação?
Não necessariamente. As ações da Eletrobras tiveram uma valorização considerável em 2022. Do início do ano até o fechamento de mercado da última sexta-feira (3), os papéis da empresa tinham alta de 28,2% em ELET3 e 31,7% em ELET6.
Mas outras empresas do setor elétrico também vão bem na Bolsa neste ano. Isso acontece porque é comum que investidores procurem ativos dessas empresas em momentos de mercado mais turbulento. É o que se chama no jargão de “empresas defensivas”.
Essa atenção se deu porque os contratos de empresas de energia são, em geral, de longo prazo e reajustados pela inflação. Assim, há uma rentabilidade mais constante mesmo em momentos difíceis da economia.
De fato, a Eletrobras sobe mais que as outras com a perspectiva de privatização. Hoje, a energia produzida por parte das usinas da estatal é vendida aos consumidores a valores mais baixos que os praticados pelo mercado. Com a privatização e a retirada das usinas desse regime, a Eletrobras poderá ampliar sua receita com a venda de energia a preço de mercado (mais alto).
“É difícil quantificar quanto dessa valorização recente tem efeito apenas das perspectivas de privatização. Mas, sim, o mercado ‘precificou’ um cenário mais positivo, tendo em vista que as chances de mudanças acontecerem são muito altas”, diz João Daronco, analista da Suno Research.
Isso significa que as ações não devem se valorizar muito no curto prazo?
Para João Daronco, analista da Suno Research, a valorização recente da Eletrobras diminui a “margem de segurança” do investimento. Em outras palavras: quando você compra uma ação que se valorizou há pouco tempo, ela tende a ter um “teto” mais baixo para subir em volume interessante para o acionista.
Mas há duas considerações: o rendimento do FGTS é bastante baixo, o que torna mais possível ter um investimento mais rentável nas ações da Eletrobras. Outra, é que aplicações em renda variável são mais aconselháveis para quem pretende carregar esse investimento por um prazo mais longo.
“O curto prazo é muito mais movido por rumores e notícias do que por fundamentos e dados operacionais. O investidor que olha para Eletrobras — e para qualquer companhia listada em bolsa — tem que se atentar muito mais ao longo prazo”, diz Daronco.
G1