A Polícia Federal solicitou a quebra do sigilo telemático para obter dados, documentos e comunicações mantidas por Jair Renan Bolsonaro, filho mais novo do presidente da República investigado por suspeita de tráfico de influência, e de outros alvos investigados no caso. O pedido, entretanto, foi rejeitado pela Justiça Federal do Distrito Federal.
Essa solicitação foi apresentada no final do ano passado, sob segredo de Justiça. Com a quebra do sigilo telemático, os investigadores buscavam acessar registros como e-mails, diálogos salvos em nuvem (dispositivo de armazenamento remoto de mensagens) e outros tipos de arquivos. Em uma decisão proferida em novembro, o juiz Ricardo Leite, substituto da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, opinou que os elementos apresentados eram insuficientes e indeferiu o pedido.
Procurado, o juiz afirmou que não se manifestaria porque o caso está sob sigilo.
O inquérito conduzido pela PF apura suspeitas de que Jair Renan recebeu doações e repasses de empresários em troca de abrir as portas do governo federal para eles. Esses pagamentos teriam sido efetivados, segundo as investigações, para a montagem de uma sala comercial usada pela empresa do filho do presidente, do ramo de eventos. O GLOBO mostrou ontem que essa investigação preocupa o Palácio do Planalto e é considerada como um dos possíveis focos de desgaste para o presidente Jair Bolsonaro dentro da Polícia Federal
Procurado, o advogado de Jair Renan, Frederick Wassef, disse que o rigor da PF na investigação sobre o filho do presidente demonstraria que não há interferências de Jair Bolsonaro no órgão e negou irregularidades.
— Eu acho até ótimo que a PF quebre todos os sigilos pois nada devemos. Jair Renan jamais praticou qualquer ato irregular, não ganhou carro de empresário, nem marcou reunião. Não agiu de forma direta ou indireta para ninguém junto ao governo federal — disse o advogado.
Pedido de ajuda
A investigação já obteve indícios de que a arquiteta responsável pelo projeto da reforma da sala pediu ajuda a Jair Renan, em mensagens de celular, para que um empresário fosse recebido pelo presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Esse pedido foi revelado pelo GLOBO.
Com base nessas suspeitas, a PF relatou à Justiça que era necessário ter acesso aos diálogos mantidos por Jair Renan, pelo personal trainer Allan Lucena, que seria o responsável por captar os patrocínios, e pelos empresários, para poder aprofundar a investigação.
Mas a Polícia Federal também buscou outras frentes de apuração no caso. Em uma delas, investigadores obtiveram acesso a diálogos mantidos pelo personal trainer Allan Lucena porque um dos alvos investigados franqueou acesso às mensagens do seu celular. A PF ainda obteve do Supremo Tribunal Federal (STF) o compartilhamento de provas apreendidas em investigações que miram bolsonaristas e que podem ter encontrado elementos contra os personagens investigados nesse caso.
Em seu depoimento, Jair Renan negou ter atuado para favorecer empresários dentro do governo federal e disse que seu nome foi usado por terceiros.
O Globo