Estudante de medicina debocha de texto sobre estupro e gera revolta nas redes sociais

Um comentário do estudante de medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Lucas Müller Mendonça, gerou revolta nas redes sociais após debochar de um texto publicado pela artista e fotógrafa Tracy Figg, na segunda-feira (11). Na versão original, a artista fala sobre estupro e os riscos que as mulheres sofrem na sociedade.

Leia acima a publicação da artista, à direita, e o texto do estudante à esquerda da imagem.

Tracy escreveu o texto após a repercussão do caso da mulher grávida que foi estuprada por um anestesista durante o parto, no Rio de Janeiro (RJ).

O estudante, de 21 anos, usou a própria rede social para comentar na publicação de Tracy, debochando do texto e fazendo piada com o desempenho das mulheres no trânsito. Após o comentário, vários seguidores da artista repudiaram o estudante. “Cê tá de sacanagem, né???”, perguntou uma jovem.

Seguidores se revoltaram com o jovem — Foto: Redes socais

Em resposta aos que reagiram indignados com a situação, o jovem escreveu:

“Fiz um texto satírico justamente pra expor além de ridículo é bem transfóbico. Não existem pessoas com pênis que não são homens? E não existe estupro por parte de mulheres cis? Texto ridículo por texto ridículo, eu prefiro o meu. Tit for tat”.

Ainda nas redes sociais, o estudante afirmou que criou o texto para expor a “generalização ridícula que foi feita no texto original”. A “sátira”, como o jovem diz, foi excluída das redes sociais após os vários comentários rechaçando a atitude.

Mendonça disse ao g1 ter escrito “uma sátira me referindo a infrações de trânsito e ironizei como se só as mulheres cometessem”.

Veja abaixo a íntegra do posicionamento:

“Primeiramente, quero deixar explícito o meu repúdio ao caso de estupro que foi noticiado. Aquilo não é um ser humano, muito menos um médico. Diante do acontecido, um perfil do Instagram publicou uma imagem que continha um poema que lamentava a situação, mas que logo tomou outro rumo. Até que, enfim, o texto finalizou com “nem todo homem, mas sempre um homem”. Ora, os estupros não são sempre cometidos por homens, ainda que o sejam na maioria das vezes. A palavra “sempre” exclui exceções, e este certamente não é o caso. Diante da conclusão estapafúrdia do poema original, que imputa somente ao homem o crime de estupro, fiz um poema satírico e tão ridículo quanto a conclusão do primeiro. Nele, fiz uma sátira me referindo a infrações de trânsito e ironizei como se só as mulheres cometessem, o que é claramente não é verdade. Em nenhum momento no meu texto ironizo o estupro ocorrido, não fiz piada com estupro e muito menos fiz piada com violência. Foi apenas um texto satírico, inocente e intencionalmente absurdo a fim de expor a ideia ridícula insinuada através da frase “sempre um homem” no texto original, o que é uma conclusão ilógica, sem cabimento. Em nenhum momento comparei o crime de estupro a infrações de trânsito, isso sequer faz sentido. É óbvio que há homens que cometem infração de trânsito, assim como há, também, mulheres que estupram. E é isso que o meu texto satírico quis expor: o ridículo da conclusão do texto original”.

A UFMS também foi procurada, mas ainda não se pronunciou.

O estudante falou na ferramenta “Instagram Stories”, sobre a sua versão — Foto: Redes sociais

G1