Movimentos sociais que derrubaram Dilma divergem em relação a Temer

Domingo, 13 de março de 2016. Avenida Paulista. Cerca de 500 mil manifestantes pedem a saída da presidente Dilma Rousseff (PT) no maior ato político registrado na cidade de São Paulo. Nos bastidores, três principais movimentos sociais servem como lenha para as ruas: o MBL (Movimento Brasil Livre), o Vem pra Rua e o Nas Ruas.

Quarta-feira, 2 de agosto de 2017. Brasília. A Câmara dos Deputados barra a denúncia em que a Procuradoria-Geral da República acusa o presidente Michel Temer de ter cometido crime de corrupção. Na avenida Paulista, somente um pequeno grupo de manifestantes de esquerda se encontra para assistir a votação.

A união dos movimentos que protagonizaram o impeachment de Dilma está desfeita. Dos três, apenas o Vem pra Rua se declara favorável à saída de Temer. O grupo chegou a lançar o mapa “Afasta Temer”, contabilizando os votos dos deputados antes da votação na Câmara. Além disso, prepara um ato para o dia 27 de agosto, em todo o Brasil, “contra a impunidade e pela renovação”.

Rogério Chequer, líder do Vem pra Rua, diz à reportagem que “a única posição possível de um movimento que defendeu a queda da Dilma é defender a investigação do Temer”.

Ele propõe um questionamento para quem defende o presidente: “Como você agiria se Lula ou Dilma tivessem passado pelos mesmos eventos que Temer?”

Já o MBL, ainda que a favor do arquivamento da denúncia, tem dado maior atenção a outros temas, como as denúncias contra o ex-presidente Lula e a crise na Venezuela.

O líder Kim Kataguiri afirma que o grupo se posicionou contra a investigação porque o afastamento de Temer “não mudaria absolutamente nada” e geraria mais instabilidade para o país.

Para ele, o presidente só será punido efetivamente quando deixar o cargo. “O Temer vai ser investigado de qualquer maneira. A denúncia será analisada depois que perder o foro privilegiado.”

Kim também diz que a pena relativa à denúncia apresentada pela PGR é “pífia” e que Temer deve ter tido “papel essencial” no petrolão. “Com certeza os crimes que deve ter cometido no petrolão, sendo vice da Dilma e tendo o trânsito no Congresso que ele tem, as penas aí sim são muito maiores.”

O Nas Ruas, fundado na esteira da luta anticorrupção, também defende a permanência de Temer, mas faz uso de um discurso mais agressivo. Em publicação no Facebook, o grupo chama Janot de “canalha” e afirma que ele tentou trazer de volta “sua quadrilha, seus chefes”.

Segundo a líder Carla Zambelli, o movimento está priorizando outras pautas, como o fim da urna eletrônica e que o STF possa julgar “casos parados há mais de dois anos”. “Estamos acreditando mais na renovação de 2018.”

Questionada se não é uma contradição o grupo ter sido fundado para combater a corrupção e agora defender o arquivamento da denúncia, Carla afirma que existem “níveis de corrupção”. “Existe muita corrupção e pouca corrupção. Quando coloca na balança a possibilidade de entrar uma pessoa como o Eunício [Oliveira, presidente do Senado], é uma questão de priorizar menos corrupção.”

NOVO GRUPO

Diante do vácuo de movimentos centristas ou de direita que se posicionem pela saída de Temer, novos grupos vão surgindo. É o caso do “Quero um Brasil Ético”, do ex-juiz Luiz Flávio Gomes.

Segundo ele, a iniciativa ganhou energia quando movimentos como o MBL “arrefeceram”. Ele considera “lamentável” a defesa da permanência de Temer.

O ex-juiz diz que seu movimento é “suprapartidário” e contra a “classe política podre”.

“Criei o movimento como um espelho da indignação popular. Botar gente com cabeça diferente, que possa promover as reformas do país. O atual Congresso está desacreditado”, afirma Gomes, que deseja concorrer a deputado federal ou senador na eleição de 2018.

CARIRI EM AÇÃO

Com Folhapress /Foto: Google

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