Mais de 10% das crianças não frequenta a escola, revela a UNICEF

A percentagem de crianças que não frequentam a escola estagnou a nível mundial na última década, devido a pobreza e conflitos prolongados, mas também à insuficiência de financiamento da educação em situações de emergência, anunciou hoje a UNICEF. Em números, isso significa que 123 milhões de crianças em idade escolar não estudam.

“Atualmente, 11,5% das crianças em idade escolar – ou seja, 123 milhões – não frequentam a escola, em comparação com 12,8% – ou 135 milhões – em 2007”, indicou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). A conclusão do relatório é que, numa década, tais números representam uma “quase total ausência de progressos”.

Considerando em idade escolar as crianças entre os seis e os 15 anos, a agência especializada da ONU apontou como causas para a estagnação desta taxa “níveis de pobreza generalizados, conflitos prolongados e emergências humanitárias” e pediu mais investimento para combater as razões que deixam as crianças vulneráveis fora da escola.

“Os investimentos destinados a aumentar o número de escolas e professores para acompanhar o crescimento populacional não são suficientes, e a abordagem habitual não levará as crianças mais vulneráveis à escola – nem as ajudará a desenvolver todo o seu potencial – se continuarem presas nas malhas da pobreza, da privação e da insegurança”, afirmou a diretora dos Programas de Educação da UNICEF, Jo Bourne.

“Em primeiro lugar, os governos e a comunidade internacional devem direcionar os seus investimentos para eliminar os fatores que impedem estas crianças de frequentarem a escola, nomeadamente tornando-as mais seguras e melhorando o ensino e a aprendizagem”, defendeu.

As crianças que vivem nos países mais pobres do mundo e em zonas de conflito são as mais afetadas, segundo o relatório, que refere que, dos 123 milhões de crianças que não frequentam a escola, 40% vivem nos países menos desenvolvidos e 20% em zonas de conflito.

“A guerra continua a ameaçar – e a reverter – os ganhos alcançados em matéria de educação: os conflitos na Síria e no Iraque provocaram um aumento do número de crianças fora da escola da ordem dos 3,4 milhões, o que representa um retrocesso no Médio Oriente e norte de África comparável aos níveis de 2007, com aproximadamente 16 milhões de crianças não escolarizadas”, lê-se no documento.

Já “na África subsaariana e no sul da Ásia, com os seus elevados níveis de pobreza, rápido crescimento populacional e emergências recorrentes, o número de crianças em idade escolar primária e do primeiro ciclo do secundário não escolarizadas representa 75% das crianças que, ao nível global, não têm acesso à educação”, prossegue a UNICEF.

A organização registou, contudo, alguns progressos: na última década, a Etiópia e o Níger, dois dos países mais pobres do mundo, foram os que mais progrediram no que respeita a matrículas de crianças em idade escolar primária, com um aumento respetivo de mais de 15% e de cerca de 19%.

Quanto ao financiamento insuficiente da educação em situações de emergência que está a afetar o acesso das crianças à escola em zonas de conflito, a agência especializada da ONU indicou que “em média, menos de 2,7% dos apelos humanitários globais são dedicados à educação”.

“Nos primeiros seis meses de 2017, a UNICEF recebeu apenas 12% dos fundos necessários para proporcionar educação às crianças que vivem em situações de crise”, precisou a organização, frisando que “são necessários mais fundos para responder ao número e à complexidade crescente das crises e dar às crianças a estabilidade e as oportunidades que merecem”.

A curto prazo, estimou Jo Bourne, “a aprendizagem proporciona alívio às crianças afetadas por emergências, mas, a longo prazo, é também um investimento fundamental no futuro das sociedades”. “Porém, o investimento na educação não responde à realidade de um mundo volátil. Para tal, devemos assegurar mais financiamento, e também de forma mais preventiva, para a educação em emergências que são imprevisíveis”, sustentou a responsável.

CARIRI EM AÇÃO

Com SIC Notícias/Foto: Google

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