PSDB não merece apoio do PMDB em 2018, diz líder da tropa de Temer no Congresso

O STF se entregou à “libertinagem”. O PSDB não é um aliado confiável e não merece o apoio do PMDB nas eleições de 2018. A imprensa tem grande responsabilidade na degradação da política brasileira porque “não separa o joio do trigo” e sempre apresenta os políticos como se todos fossem desonestos. O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot foi um incompetente. A candidatura presidencial de Jair Bolsonaro (PSC-RJ) é “um factoide”. O general Sérgio Etchegoyen, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, é o melhor nome para o PMDB lançar à sucessão do presidente Michel Temer.

As opiniões acima foram expressas em entrevista ao Congresso em Foco por um deputado federal de primeiro mandato que não se importa em ser chamado de líder da tropa de choque do presidente Michel Temer. Gaúcho que se formou em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas fez a carreira política no Mato Grosso do Sul, onde também se formou em Direito, Carlos Marun (PMDB-MS) se fez notar no Congresso Nacional inicialmente pelo porte físico – 1,89 de altura e 130 kg.

Projetou-se depois como fiel escudeiro do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Enquanto a maioria dos seguidores do outrora mais poderoso homem da República mudou de lado e o abandonou, permaneceu ao lado de Cunha até o último instante. Foi de Marun um dos dez votos contrários à cassação do parlamentar fluminense. Sua influência no grupo de Cunha, que se tornou notória com a deflagração do processo de impeachment de Dilma Rousseff, aumentou ainda mais após a chegada de Temer ao comando do Executivo.

A entrevista com o deputado, que durou pouco mais de uma hora, foi interrompida duas vezes por telefonemas do Palácio do Planalto. Além de ocupar lugar de destaque no debate legislativo das matérias de maior interesse do governo, Carlos Marun, que completará 57 anos em novembro, chefia a Procuradoria da Câmara, órgão encarregado de fazer a defesa jurídica da casa. É também o relator da CPI mista que investiga a JBS e os termos do acordo de delação premiada feito entre a empresa e o Ministério Público.

O sobrenome é uma homenagem a São João Marun, patriarca da Igreja Maronita, milenar instituição católica oriental até hoje muito forte no Líbano, país de origem dos seus ascendentes.

Sem papas na língua, Marun se gaba de ser um homem que não muda de lado nem esconde o que pensa. “Se essa reforma política proibisse a hipocrisia na política, seria a melhor coisa que poderia acontecer”. Apesar da sua costumeira truculência verbal e das explosões que por vezes emudecem auxiliares, assessores dizem que o chefe é mais manso do que aparenta e, não raro, lhes brinda com gestos de inconfundível carinho. O estilo trator, dizem, é 100% genuíno.

Nem por isso deixou de ajudá-lo a se destacar entre os 513 deputados que compõem a Câmara e a se tornar foco de permanente interesse da mídia. É difícil vê-lo desfilar pelo famoso Salão Verde da Câmara sem a companhia de um séquito de jornalistas. Talvez involuntariamente, Marun comprova a procedência de um ensinamento deixado pelo presidente norte-americano Donald Trump em sua autobiografia (Trump, a arte da negociação): “A imprensa está sempre atrás de uma boa história e quanto mais sensacionalista, melhor. Se você for um pouco diferente ou um pouco ofensivo, ou se você fizer coisas meio audaciosas ou polêmicas, eles vão escrever sobre você”.

O que não o impede de criticar empresas e profissionais de comunicação. Sobe o tom, por exemplo, ao falar da reportagem do Estadão que relatou o fato de ele e outras 13 pessoas terem sido acusadas pelo Ministério Público Estadual do Mato Grosso do Sul de  terem desviado R$ 16,6 milhões. “A matéria estava correta. A denúncia existe, o que é normal. No governo do Mato Grosso do Sul, fiz centenas de contratações. Tenho problema em um contrato. Um. Mas o jornal vai lá e bota um título como se eu fosse acusado de ter desviado mais de R$ 16 milhões. Ora, esse era o valor de todo o contrato, que não teve nada de errado. Mesmo que tivesse havido algum desvio, que não ocorreu, o valor seria muito menor e o eventual prejuízo ao erário teria sido causado por mim e mais 13 pessoas”.

O verdadeiro vilão da história, no seu entender, é o “dedismo”: “Todo mundo apontando para os outros. Mas ninguém olha para o seu, ninguém faz a sua parte”. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

PSDB

“Não posso acreditar que não tenha tido o dedo do Alckmin” nos votos tucanos pela aceitação da denúncia contra Temer

“Não vejo possibilidade de a gente se aliar com o PSDB (nas eleições de 2018). O PSDB participa do governo, mas tem nos trazido muita dificuldade. Eu vejo que cada momento é uma crise. Na outra denúncia, de 48 horas em 48 horas, o partido se reunia para ver se continuava no governo. Não quero esse tipo de parceiro. Não é esse o tipo de filosofia que pode fazer o Brasil ter um rumo. Vamos ser francos. Dos 13 deputados do PSDB de São Paulo, 12 votaram a favor da denúncia. Será que o governador de São Paulo não podia ter pegado o telefone e ter garantido ao menos cinco votos entre esses deputados? Não posso acreditar que não tenha tido o dedo do governador Alckmin. Ou ele agiu contra nós ou cruzou os braços. Não é o tipo de atitude que queremos de um aliado. Não sei se o PSDB tem duas caras. Mas o PSDB tem de saber o que quer. É problema deles. Não é hoje um partido com quem eu, Marun, gostaria de me aliar nas próximas eleições. O cara vota numa denúncia que chama o presidente de ladrão e sai daqui e vai ali [no Planalto] pedir cargo. Cada um que cuide da sua vida. Mas, isso assim, não dá.”

General para presidente

“Eu defendo a candidatura do general Sérgio Etchegoyen. A filiação do general ao PMDB e um projeto de rumo para o Brasil. O Brasil não tem rumo. A liberdade virou libertinagem. Para mim, o Bolsonaro é um factoide neste momento, com todo respeito. Mas, na verdade, ele saiu daqueles 10% e mobilizou um outro grupo de pessoas. Mas defendo o nome do general não para contrapor Bolsonaro. Não tenho preconceito. Se um general for eleito, pode ser. Não quero um general presidindo o país pela força de um destacamento policial, um pelotão do Exército, isso não. As esquerdas já apoiaram o Marechal Lott. No final da ditadura militar, o MDB apoiou um general contra o Figueiredo [Euler Bentes Monteiro, que em 1978 enfrentou o general João Figueiredo no colégio eleitoral]. Entendo que o Brasil precisa ter um rumo, que não estamos tendo. Virou a casa da mãe Joana. Entendo que o general Etchegoyen seria um excelente candidato. Espero que ele aceite se filiar e se transformar numa opção do PMDB.”

Opções para o Planalto

“Se as pessoas elegem tão mal, é porque a imprensa informa mal. Parte pra acusação como uma metralhadora giratória”