Eduardo Cunha diz à Justiça que delator e operador do PMDB atribui ‘tudo’ a ele

O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disse nesta segunda-feira (6), em depoimento à Justiça Federal em Brasília, que não participou de nenhum esquema de corrupção e acusou o ex-operador do PMDB e delator Lúcio Funaro de querer atribuir “tudo” a ele.

O depoimento de Cunha é sobre o suposto esquema de propinasenvolvendo financiamentos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado pela Caixa Econômica Federal.

O esquema é investigado pela Operação Sépsis, um desdobramento da Lava Jato. Além de Cunha, também são réus nesse processo Lúcio Funaro, Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa, e Henrique Eduardo Alves, ex-ministro e ex-presidente da Câmara.

Cunha atacou Funaro logo no início do depoimento. O operador do PMDB, em audiência no fim de outubro, confirmou a existência do esquema de corrupção e listou políticos do partido que teriam se beneficiado, como Cunha e o presidente Michel Temer.

“A delação que ele [Funaro] faz agora está me transformando num posto Ipiranga. Tudo é Eduardo Cunha”, disse o ex-presidente da Câmara.

Cunha refutou as acusações de corrupção e disse que irá contestar todas. “Nenhuma delas é verdadeira e eu quero rebater cada ponto delas”, continuou Cunha.

Doação do grupo Bertin

Eduardo Cunha contestou a acusação feita por Funaro de que o grupo empresarial Bertin pagou propina ao PMDB como contrapartida pela liberação de financiamento do Fundo de Investimentos do FGTS, administrado pela Caixa.

De acordo com Funaro, dessa transação, Michel Temer teria recebido R$ 2,5 milhões, o que é negado de “forma categórica” pelo Palácio do Planalto.

Cunha disse que conversou com o grupo apenas sobre doações oficiais à campanha eleitoral e que não se lembra de ter pedido doação em nome de Temer.

“Eu não me lembro de ter pedido para o Michel Temer, mas, se eu tivesse pedido, qual é o ilícito? Eu não recordo sinceramente”, disse Cunha em seu depoimento à Justiça.

O ex-deputado disse que marcou em 2010 uma audiência entre o hoje ministro Moreira Franco, à época vice-presidente da Caixa, e Lúcio Funaro, mas que não participou do encontro e nem que recebeu qualquer comissão por essa intermediação.

“Se o Moreira Franco recebeu [propina], e se tratando de Moreira Franco eu até não duvido, não foi das minhas mãos”, disse Cunha.

Relação com o delator

Ao detalhar a sua relação com Funaro, Cunha disse que os dois se aproximaram em 2003, quando o operador fez doações para a campanha do ex-deputado.

A partir daí, contou que se tornaram amigos e começaram a operar juntos no mercado financeiro.

“O fato de ele [Funaro] dizer que não é doleiro, é só quebrar o sigilo. Essa muita movimentação é que vai mostrar que ele era doleiro”, disse Cunha. “Isso é só para explicar que ele era doleiro, apesar de negar”, completou.

Cunha relatou ainda diversas situações em que as informações políticas beneficiaram Funaro e ele nessas operações. “Eu tinha muito boas informações e ganhava na maioria. O Lúcio começou a entender que as informações que vinham de Brasília acabavam tendo repercussão no mercado financeiro”, disse.

Por conta disso, segundo o ex-deputado, Funaro ficou interessado em disputar uma vaga como deputado por Pernambuco, mas cabou desistindo das suas pretensões eleitorais porque seu nome veio à tona no escândalo do mensalão.

Cunha negou que Funaro tenha relação com o PMDB e seja operador de propina do partido, conforme acusa o Ministério Público.

“Nenhuma [relação com o PMDB], zero, zero. Ninguém sabe quem é Lúcio Funaro. Operador nenhum, operador coisa nenhuma. É uma historia que ele está criando para ter uma delação. Todo mundo que ele conheceu foi através de mim”, declarou o ex-deputado.

Cunha ainda negou ter indicado Fábio Cleto para a vice-presidência da Caixa, conforme afirmado pelo próprio Cleto e por Funaro. Ele disse que não o conhecia até então e ficou surpreso com a sua nomeação.

“Na minha opinião, eu não o escolheria. Ele não era diretor do Itaú, ele era operador de mesa, ele não tinha nenhuma experiência. Acordamos no dia com a nomeação dele [no Diário Oficial], sem eu sequer ter conhecido Fábio Cleto”, disse.

Michel Temer

Em seu depoimento, Eduardo Cunha isentou Michel Temer de ter relação com Funaro.

“Lúcio Funaro nunca teve acesso ao Michel Temer”, disse Cunha. Segundo o ex-deputado, as três ocasiões de encontro citadas por Funaro em sua delação não são verdadeiras.

Uma delas teria sido em um culto religioso em um templo, outra em um comício de campanha e a terceira na base aérea de São Paulo.

“O culto era em um lugar para 12 mil pessoas sentadas e não é qualquer um que entra no púlpito. O Temer estava no púlpito, o Lúcio não deve nem ter passado perto”, disse.

E continuou: “É mentira. Só se houve outros momentos. Na minha frente, ele nunca cumprimentou o Michel Temer. Nessas três ocasiões, eu estava com Michel Temer”.

Busca e apreensão

Cunha disse ainda que Funaro sabia que seria alvo de um mandado de busca e apreensão em dezembro de 2105.

A operação daquele dia teve como alvos Funaro e Cunha, entre outros nomes. O ex-deputado contou que o operador do PMDB foi avisado com antecedência das buscas.

“A busca foi no dia 15 de dezembro, que era uma terça. Ele me mandou mensagem avisando no sábado, dia 12. O objetivo de me avisar era que para eu não mandar mensagem a ele. Só foi apreendido o que ele quis. Tanto é que ele retirou obras de arte, jóias”, afirmou Cunha.

Ainda segundo o ex-deputado, Funaro só comentou que ele seria alvo e não quea operação atingiria também Cunha.

CARIRI EM AÇÃO

Com G1 /Foto: Reprodução, Divulgação, Google  

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