O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), primeiro-vice-presidente do Senado, reconheceu em depoimento prestado à Polícia Federal que ouviu a proposta de um executivo da empreiteira Odebrecht para que recebesse dinheiro em esquema de caixa dois para sua campanha ao Governo da Paraíba, em 2014. O parlamentar disse que recusou a oferta.
Não há registro nos discursos de Cássio no Senado de que ele tenha feito denúncia sobre a proposta. Da mesma forma, o parlamentar não procurou a PF ou os órgãos de controle para alertar o que havia ocorrido em seu gabinete no Senado.
Senador assegurou, no entanto, que recusou os R$ 800 mil ofertados e recebeu R$ 200 mil pelos meios oficiais
Cássio disse à Polícia Federal que recebeu a proposta de caixa 2, mas não aceitou o dinheiro e recebeu doação legal através da Brasakem.
O senador paraibano Cássio Cunha Lima (PSDB), vice-presidente do Senado, admitiu à Polícia Federal que recebeu proposta de ‘caixa 2’ da Odebrecht, em 2014. O parlamentar aparece entre os favorecidos na delação feita por executivos da empreiteira. Eles asseguram ter pago R$ 800 mil para a campanha do parlamentar, que disputou o governo do Estado.
Na época, ele não conseguiu impedir a reeleição do governador Ricardo Coutinho (PSB). O parlamentar garantiu, no depoimento, ter recusado a oferta, segundo matéria publicada neste domingo (21) na Folha de São Paulo. O periódico ressalta ainda que apesar da proposta nada republicana e da alegada recusa, não houve, por parte do senador, denúncias às autoridades e nem discurso no Senado com críticas à prática ilegal.
Além dos depoimentos de executivos da Odebrecht, as declarações do senador contradizem a análise técnica feita pela PGR (Procuradoria-Geral da República) no Drousys, um sistema de comunicação criado pela empreiteira para o “departamento de propina” da companhia, o Setor de Operações Estruturadas.
Os arquivos estavam em um servidor em Estocolmo, na Suécia, e foram entregues pela Odebrecht como parte do seu acordo de delação premiada fechado com a PGR. A PGR, na denúncia, alega que as planilhas encontradas em anexo de e-mails enviados em 2014 “corroboram as afirmações do executivo da Odebrecht Alexandre José Lopes Barradas, que revelou o pagamento de R$ 800 mil nas eleições de 2014, via caixa dois, em favor de Cássio Cunha Lima”.
Cássio era identificado nas planilhas com os codinomes “Trovador” e “Prosador”. A empreiteira esperava, em troca, um melhor destino para a proposta de parceria público-privada para o esgotamento sanitário na região da Grande João Pessoa (PB). A queixa é que Ricardo Coutinho, ex-aliado de Cássio, não havia dado continuidade ao projeto apresentado pelo grupo. Em sua delação, o presidente da Odebrecht Ambiental na época, Fernando Reis, afirmou que a empresa resolveu ajudar a campanha de Cunha Lima. Segundo o executivo, Barradas acreditava que o senador paraibano “poderia ter uma opinião mais favorável à participação privada no setor de saneamento do Estado da Paraíba”.
Depoimento
O depoimento de Cássio Cunha Lima foi prestado à Polícia Federal em junho. Na época, o senador disse que, após pedido de ajuda para a sua campanha, Barradas apareceu para dizer que havia recebido autorização para fazer a doação. “Entretanto, Barradas informou que somente poderia fazer uma doação eleitoral para a campanha do declarante [Lima] de forma não oficial”, disse o senador à PF, segundo publicação da Folha.
Cunha Lima afirmou que “reagiu imediatamente à proposta”, dizendo “que não poderia aceitar doação eleitoral não contabilizada”. O senador argumentou que a tratativa parou por ali e que sua campanha recebeu R$ 200 mil do grupo Odebrecht, mas oficialmente e por meio do braço petroquímico da companhia, a Braskem.
RELEMBRE
Segundo o relatório da PGR, planilhas do Drousys encontradas em anexo de e-mails enviados em 2014 “corroboram as afirmações do executivo da Odebrecht Alexandre José Lopes Barradas, que revelou o pagamento de R$ 800 mil nas eleições de 2014, via caixa dois, em favor de Cássio Cunha Lima”. Segundo Barradas, o parlamentar foi identificado pelos codinomes “Trovador” e “Prosador”.
Reveja abaixo trecho do depoimento de Alexandre Barradas
Em sua delação, o presidente da Odebrecht Ambiental na época, Fernando Reis, afirmou que a empresa resolveu ajudar a campanha de Cunha Lima porque havia apresentado ao governo da Paraíba uma proposta de parceria público-privada para um projeto de esgotamento sanitário na região da Grande João Pessoa (PB), mas o então governador, Ricardo Coutinho (PSB), ex-aliado de Cunha Lima, “não deu andamento” ao projeto.
O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse à Folha que o caixa dois em eleições “fez parte da cultura política brasileira” e que tomou a atitude “correta, que lhe cabia, que foi recusar” a proposta feita pelo executivo da construtora Odebrecht.
Indagado sobre não ter levado o assunto à tribuna do Senado, Cunha Lima afirmou: “Ele apenas disse que faria a doação por caixa dois e, sejamos sinceros, a doação de caixa dois fez parte da cultura política brasileira, a imprensa sabia disso, o Ministério Público sabia disso, o país inteiro sabia. Em boa hora passou a ser criminalizada”.
“Queria deixar registrado que o delator disse que eu fui o único a resistir ao caixa dois. Eu não pedi, resisti e não recebi.”
No seu depoimento, Alexandre Barradas disse que a princípio Cunha Lima recusou, mas depois aceitou a doação em caixa dois.
O senador disse que há inconsistências no relato de Barradas. “Ele fala que entregou o dinheiro a um tal de ‘Luiz’, que ninguém acha. E num hotel que ele não lembra qual foi. Como é que você faz a entrega de um valor expressivo desses num local que foi combinado e não lembra o hotel que foi?”
Em nota, a Odebrecht disse que “reforça a consistência e plenitude de sua colaboração com a Justiça no Brasil e nos países em que atua e está empenhada em ajudar as autoridades a esclarecer qualquer dúvida”.
CARIRI EM AÇÃO
Com Folha de São Paulo /Foto: Reprodução google
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