Não está escrito nas estrelas que terão futuro nebuloso os candidatos estagnados ou com pálida intenção de voto nas pesquisas realizadas a esta altura do ano. Especialmente num ambiente politicamente volátil, repleto de incertezas e de possibilidades diferentes de candidaturas que vemos neste momento –os 9 cenários trabalhados pelo Instituto Datafolha, na pesquisa divulgada esta semana, são um exemplo claro das dúvidas vigentes.
Eis por que tucanos saíram em defesa de Geraldo Alckmin (PSDB), a despeito dos modestos 6% registrados na pesquisa divulgada esta semana pelo Instituto Datafolha, no cenário com o ex-presidente Lula como candidato, ou 11%, no cenário sem Lula. Ou por que o ministro Henrique Meirelles (PSD), mesmo desanimado com o estágio entre 1% e 2% a depender dos cenários, reafirme o interesse em se candidatar. Ou que petistas sigam vendo no ex-ministro Jaques Wagner (PT) um nome seguro para ser o candidato do partido diante de uma provável prisão do ex-presidente Lula.
A história do voto no Brasil pós-redemocratização exibe consideráveis exemplos de candidatos que começaram por baixo e cresceram até a vitória – como Fernando Collor de Mello em 1989 e Fernando Henrique Cardoso em 1994 – ou saíram de baixo para crescer a ponto de assustar o vitorioso – como Geraldo Alckmin no primeiro turno de 2006.
Em todos esses casos, no entanto, havia fatores nítidos de impulsionamento ao longo da campanha, incluindo o contexto da própria disputa. Collor era o vento de novidade num país cansado de José Sarney e desejando acreditar no novo. FHC tinha o imbatível Plano Real. Em favor de Alckmin, um sentimento anti-Lula pós-mensalão a seu favor. Todos com a mídia majoritariamente a seu favor.
Não é este o caso para os estagnados do presente.
AS PEDRAS NO CAMINHO TUCANO
No Brasil de 2018, Alckmin não parece vocalizar a melhor expressão do antilulismo e antipetismo vigentes em grande parte do eleitorado. Nem conseguiu ainda empolgar o próprio partido, passo fundamental para capturar aliados e criar um movimento sólido em favor de sua candidatura.
A Henrique Meirelles –como também a Alckmin– falta carisma para seduzir grandes massas, e o ministro da Fazenda é e será visto como o candidato do presidente Michel Temer, cujo governo segue cambaleante na casa dos 6% de aprovação popular. Temer é um eleitor ruim porque seu governo é ruim, mesmo que a mídia brasileira se esforce na defesa de bons números da inflação e de projeções otimistas de crescimento econômico, enquanto a brasileiro médio se depara, assustado, com o patamar ainda gigantesco do desemprego, com a falta de dinheiro para consumir e com a uma inédita e profunda agenda regressiva de direitos.
Para ambos os candidatos, ainda há esperança de aparecer os tais elementos impulsionadores da campanha – a ausência de Lula na campanha certamente é um deles. Mas precisarão fazer milagres. Alckmin também precisará torcer para que o PSDB não termine sucumbindo ao oportunismo de uma saída pela via Luciano Huck, ou que o partido não repita os erros de 2002, 2006 e 2010, quando o candidato derrotado na disputa interna fez corpo mole para o vitorioso, dividindo a legenda e prejudicando o candidato de fato.
Se lhe falta carisma, sobra ao governador paulista resiliência e méritos de hábil articulador, atributos fundamentais para atrair aliados de outros partidos mesmo com números modestos nas pesquisas. Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PSC) e o PT errarão feio se menosprezá-lo.
O SUBSTITUTO DE LULA
O caso de Jaques Wagner é menos desalentador do que parece. Com a cara lavada característica, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que “não houve tempo para a população absorver a informação” da condenação em 2ª Instância de Lula. Foi o seu contorcionismo explicativo para justificar a impressionante resistência do ex-presidente, que nada perdeu em intenção de voto com a decisão do Tribunal Regional Federal da 4a Região.
Hoje pouca gente no PT duvida que Lula será preso e impedido de se candidatar. Mas seus números prenunciam uma enorme capacidade de transferência de votos dele a um aliado. A pesquisa Datafolha mostrou uma migração de votos razoavelmente dispersa –Marina e Ciro lideram a lista de beneficiários, que inclui Luciano Huck (sem partido), Geraldo Alckmin, Jaques Wagner e até Bolsonaro.
Com a campanha na rua, a identificação do eleitor de Lula majoritariamente com um ou dois candidatos será mais clara e precisa. Meu palpite básico é que a grande maioria vai para Ciro e Jaques. Se Ciro contiver o belicismo retórico dirigido até mesmo a potenciais aliados, deverá subir bastante. Mas Jaques tem credenciais robustas para se transformar no maior herdeiro dos votos de Lula –para além do PT.
O ex-governador da Bahia e ex-ministro de Lula e Dilma Rousseff tem sólida experiência política para aqueles que criticaram a ex-presidente pelo pouco traquejo ao líder com diferentes forças políticas. Só a desonestidade intelectual ou a conveniência eleitoral o credenciará como “poste” de Lula, afinal é um fundador do partido, deputado federal por três mandatos e ex-ministro, além de ter sido eleito e reeleito governador da Bahia – para em seguida fazer o sucessor.
Não é pouco. Equilíbrio, experiência e leveza ainda adornam sua forma jeitosa de lidar com aliados, adversários e a mídia e o credenciam a mostrar que foi um gestor competente quando teve a oportunidade.
CONTRA BRANCOS E NULOS
Todos os candidatos, no entanto, precisarão enfrentar um adversário aparentemente espantoso: a possível explosão de votos brancos e nulos, ou de abstenções, num cenário sem o ex-presidente Lula candidato. Como já anotaram muitos analistas, este foi o dado estarrecedor da pesquisa Datafolha: o recorde de 32% do eleitorado prevendo votar branco ou anular seu voto.
(O maior índice de “sem candidato” já registrado nas urnas em primeiro turno de uma disputa presidencial, para se ter uma ideia, foi na reeleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1998. O percentual? 19%!).
É um cenário democraticamente inquietante: em duas das três hipóteses testadas sem Lula, brancos e nulos disputam a liderança com os dois candidatos finalistas. Um nó a ser desatado pelos candidatos sobreviventes nos próximos meses: se a eleição fosse hoje, o Brasil poderia eleger um presidente rejeitado por quase 70% da população.
CARIRI EM AÇÃO
Com Poder 360/Foto: Poder 360
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