“O governo de Lula nunca foi de esquerda”, diz presidenciável Aldo Rebelo

Ao longo de quatro décadas no PCdoB (Partido Comunista do Brasil), o alagoano Aldo Rebelo, 62, foi deputado federal por 14 anos, alcançou a Presidência da Câmara e comandou quatro ministérios nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT (Partido dos Trabalhadores).

Em 2017, Aldo resolveu mudar de ares. Migrou para o PSB (Partido Socialista Brasileiro), mas ficou só um semestre na sigla. No mês passado, filiou-se ao Solidariedade, que é presidido pelo deputado federal Paulinho da Força e foi um dos líderes do movimento que culminou no impeachment de Dilma. Recém-chegado na nova casa, foi lançado como pré-candidato ao Palácio do Planalto.

Na terça-feira (8), ele foi um dos 11 presidenciáveis que participaram de evento da FNP (Frente Nacional de Prefeitos), em Niterói (RJ), onde concedeu entrevista ao UOL na qual falou sobre sua plataforma eleitoral e da impressão de que a divisão do país entre esquerda e direita é “falsa”.

“É artificial e não consegue nem explicar e nem propor uma saída para o Brasil. Há uma agenda que é capaz de unir forças amplas que estão naturalmente acima deste espectro ideológico que muitas vezes tem dividido uma parte da sociedade. A saída para o país pode e deve reunir amplas forças políticas, sociais, econômicas”, apontou Rebelo.

A pouco menos de cinco meses do primeiro turno das eleições, 21 dos 35 partidos brasileiros anunciaram pré-candidatos ou têm interessados em disputar a Presidência da República. Para Rebelo, essa “pulverização” deve diminuir até 15 de agosto, data limite para que as legendas registrem oficialmente suas candidaturas.

“Acho que lá para o fim de junho, julho, haverá uma rearrumação de forças”, palpitou, a pedido da reportagem. “E acho que quem tiver uma agenda que explique e que procure soluções para os problemas do país tem possibilidade de juntar. Ah, ‘o Lula não juntou?'”, continuou o presidenciável, apresentando em seguida um diagnóstico sobre o governo Lula.

“‘Ah, o governo de Lula era de esquerda’. Nunca foi de esquerda”
Aldo Rebelo, pré-candidato do Solidariedade à Presidência da República

O ex-ministro lembrou então que o vice do petista, José Alencar (1931-2011), era “um grande empresário”, que havia presidido “uma das federações de indústrias mais importante do país”, a de Minas Gerais.

“O ministro da Agricultura, quem era? Roberto Rodrigues [de 2003 a 2006]. Pode ser tudo, é meu amigo, mas não é de esquerda”, comentou, mencionando ainda o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, que é herdeiro da família que fundou a antiga Sadia e conselheiro da BRF, resultado da fusão com a Perdigão.

Em suma, opinou, foi um “governo de composição, que reunia forças desenvolvimentistas com forças trabalhistas”. “Por que é que você agora tem que fragmentar o país numa agenda que ao invés de reunir energias para remover os obstáculos, cria mais obstáculos?”, questionou.

“Vice não é meta”

Com esse entendimento, ele e o Solidariedade têm procurado “conversar amplamente” com outros partidos. “Não temos o exclusivismo de achar que só nós nos bastamos […] Sem diálogo, sem conversa, como é que você faz a política?”.

Questionado se estaria disposto a abrir mão de disputar ou integrar outra chapa, Aldo disse que o momento é de cada candidatura cuidar de consolidar suas bases. “Você não pode começar um campeonato dizendo que é candidato a vice. Vice não é uma meta. Então a nossa candidatura é a presidente da República”, declarou.

O presidenciável disse ter recebido ofertas com propostas de nomes para vice de sua chapa, mas que os manteria em sigilo a pedido dos interessados. Revelou, porém, que diante da base sindical de seu partido, “é mais natural que o meu vice possa ter um perfil mais liberal […], para fazer uma composição representativa da sociedade brasileira”.

Até o momento, Aldo ainda não foi testado em pesquisas eleitorais. E se nega a fazer qualquer prognóstico, pelo menos em público. “Expectativa de pesquisa que não foi divulgada não adianta nada.”

Plano para o Brasil

Ao construir a plataforma de seu eventual governo, o pré-candidato decidiu alicerçá-la em três eixos: o da redução das desigualdades, o do combate ao desemprego e o do fortalecimento da democracia.

“Você vê em metrópoles como São Paulo ou outras do Nordeste as pessoas procurando lenha na rua para cozinhar porque não conseguem pagar R$ 70, R$ 80 por um botijão de gás. O país tem que colocar essa questão no centro do debate”, declarou.

No entendimento do pré-candidato, a luta contra o desequilíbrio social não se limita aos pobres e a questão da falta de emprego no país é para ele não apenas um desafio de gestão, mas uma “questão moral da sociedade e dos governantes”. “Quem não tiver o que dizer sobre desemprego não deve nem pretender governar o país.”

“Você tem 13 milhões de desempregos oficiais [são 13,7 milhões, segundo o IBGE] sabendo que tem quase outro tanto de desempregados na prática”, acrescentou Rebelo, citando o hipotético caso de quem vende água de coco na praia, não está procurando emprego e não consta nos dados oficiais.

Para ele, empresários e trabalhadores são a favor do desenvolvimento. “É benéfico para os dois, para o país, gera lucro, emprego, divisas, tributos. Essa agenda é muito ampla e não divide quem é de esquerda e quem é de direita”, comentou.

Ao falar da defesa da democracia, Aldo demonstra muita preocupação. “As pessoas estão quase que substituindo a política pela violência para resolver as suas violências”. Citou o atentado a bala contra a caravana em que estavam dois ex-presidentes da República [“a Dilma e o Lula”], no interior do Paraná. Apesar do que disse Rebelo, a ex-presidente Dilma não participava da caravana no momento dos tiros.

“Onde vai parar uma coisa dessa? Se você quiser vedar o espaço político ao seu adversário e vice-versa, você vai fazer o quê? Uma guerra civil espanhola (1936-1939)? Não tinha mais o que fazer na política, as pessoas foram para a violência. Isso precisa ser enfrentado”, afirmou.

Lula preso

Para Rebelo, a prisão de Lula, no último dia 7 de abril, estimulou o lançamento de novas candidaturas “tanto no campo mais conservador quanto no chamado mais de esquerda, progressista”. Indagado em qual deles se enquadra hoje, optou pelo “campo progressista”.

“Com a saída dele, você teve uma fragmentação do quadro sucessório, a multiplicação do número de candidatos, porque todos acham que passam a ter chance com a ausência dele, já que ninguém chega a 20% [das intenções de voto] e todo mundo pode chegar a 10%”, analisou.

O pré-candidato disse que deixaria a discussão jurídica para os advogados do ex-presidente e do PT, que estão buscando trazer o ex-presidente de volta à disputa. “Se o Lula não vai ser candidato, a eleição vai acontecer do mesmo jeito. Então vão ter outras que devem debater os rumos do Brasil.”

Respeito a Bolsonaro

Com relação ao deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), pré-candidato à Presidência que lidera as pesquisas nos cenários sem Lula, ele disse respeitar a candidatura.

“Quem tem 20% nas pesquisas no país tem uma parcela da população que o acompanha, o segue, o escolhe, e deve ser respeitado”, afirmou. Aldo frisou, no entanto, que isso não significa que ele concorde ou tenha mesma plataforma que o presidenciável.

“É uma candidatura como as outras. Tem tanta legitimidade quanto as outras, desde que respeite as regras do jogo. Quem não respeita, responde por isso”, comentou.

Joaquim Barbosa

O pré-candidato foi avisado pela reportagem do UOL sobre o anúncio do ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa de que não pretendia concorrer ao Palácio do Planalto e não escondeu a surpresa com a notícia.

A filiação do jurista ao PSB motivou a saída de Rebelo do partido. “Havia uma inclinação do PSB pela candidatura dele. Eu respeitei”, comentou. Mesmo assim, ele disse lamentar a decisão porque “a candidatura dele ajudaria a enriquecer o debate, não só com as opiniões, [mas] com sua história”.

“Eu não participo da pré-eleição para fazer contraponto a pessoas. É para defender ideias, opiniões, propósitos. Então desse ponto de vista eu não posso festejar nem celebrar a desistência [de Barbosa]”, comentou.

Intervenção

Ministro da Defesa de Dilma entre outubro de 2015 e maio de 2016, Rebelo comandou ações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) das Forças Armadas no Rio de Janeiro. “Quando nós fazíamos aqui [no RJ] a GLO custava R$ 1 milhão por dia. Esse recurso não é pequeno”, comentou.

Instado a avaliar a intervenção decretada pelo governo federal na área de segurança pública do Estado, ele disse considerar uma “garantia de fracasso” empregar os militares na repressão ao crime comum. “É impossível. As Forças Armadas não são treinadas, nem adestradas [para isso].”

“Eu acho que quando o governo federal tenta talvez transferir o prestígio e a credibilidade das Forças Armadas, com essa intervenção, para si, o risco é exatamente o contrário, você transferir o desgaste do governo para as Forças Armadas”, declarou.

Estimado em aproximadamente R$ 1 bilhão, o valor gasto na investida teria mais eficácia, para o ex-ministro, “se fosse transferido para fortalecer as polícias militares e civis, para equipá-las com o que há de mais moderno, treiná-las”.

Na opinião de Rebelo, a iniciativa também seria válida se fosse para oferecer presença ostensiva em eventos como Copa do Mundo, Olimpíada, visita do Papa ou Rio + 20, “para inibir a prática do crime, oferecer a imagem e a ideia de segurança”.

CARIRI EM AÇÃO

Com G1 /Foto: Reprodução Internet

Leia mais notícias em caririemacao.com, siga nossa página no Facebook, Instagram e Youtube e veja nossas matérias, vídeos e fotos. Você também pode enviar informações à Redação do Portal Cariri em Ação pelo WhatsApp (83) 9 9634.5791, (83) 9 9601-1162.