Presidente da Petrobras: governo teria que mudar diretoria da estatal para alterar política de preços

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, afirmou nesta quinta-feira que, para mudar a política de preços da companhia, o governo teria que mudar sua diretoria. De acordo com o executivo, porém, o governo assegurou a estatal, em reunião hoje, que não tem essa intenção e que, portanto, não há razão para que ele deixe o cargo. O executivo falou com analistas de bancos em teleconferência durante a tarde, enquanto as ações da Petrobras despencavam mais de 10% na B3 (antiga Bovespa). Seu discurso não foi suficiente para mudar a percepção dos investidores: o papel ordinário (com voto) da Petrobras fechou em queda de 14,5%, levando a uma perda de R$ 47,2 bilhões em valor de mercado à empresa.

Na teleconferência, Parente ressaltou que o governo não influenciou na decisão de congelar o preço do diesel, que foi tomada pela diretoria da estatal “pensando no melhor interesse da empresa”. De acordo com ele, caso Brasília deseje implementar subsídios, a Petrobras teria que ser reembolsada de acordo com cláusulas previstas em contrato.

– O governo teria que colocar um novo “management” para alinha uma mudança na política de preços (da Petrobras). Mas não vejo o governo fazendo isso. O anúncio (sobre o diesel) foi uma iniciativa tomada pela diretoria pensando no melhor interesse da companhia. Não estava sob consideração fazer qualquer coisa que não estivesse previsto em nossa política – disse Parente, falando em inglês.

Segundo Parente, ele e sua equipe deixariam a Petrobras se fossem obrigados a fazer algo “em que não acreditamos”.

– Eu e a equipe não conseguiríamos e não iriamos continuar (na empresa) se tivéssemos que fazer algo em que não acreditamos e que não fosse ao encontro ao dos interesses da companhia e dos acionistas. Mas, repito, o governo não acha que a Petrobras deva ser usado de uma maneira, por assim dizer, “social”. Não é o caso. E, portanto, não tem qualquer discussões sobre isso agora (sua saída) – esclareceu.

De acordo com Parente, ele participou de reunião com o governo federal nesta quinta-federal. Ele observou que “a Petrobras não pode se privar de discutir com o governo em uma situação como essa, já que é a maior companhia de combustíveis no país.” Na reunião, disse, o governo assegurou que não planeja fazer qualquer alteração na política de preços da estatal.

– Hoje, foi assegurado à companhia que, de nenhuma maneira, o governo apoiaria qualquer iniciativa que reduzir nossa liberdade. E que, se o governo decidir proporcionar qualquer forma de subsídio de preços, isso teria que ser feito de acordo com a lei. Segundo a legislação do petróleo, enfretamos livre competição e somos livres para determinar nosso preço. Segundo outra lei, a Lei das Estatais, se o governo dicidir praticar subsídios, teríamos que ter uma autorização legal e um contrato, enquanto o custo teria que transparente e ser compensado previamente pelo governo – contou o executivo.

‘Estamos hoje melhor do que estávamos ontem’

Parente reforçou que a decisão foi tomada de “maneira consciente” para tirar a Petrobras de uma posição defensiva com relação à sociedade. Ele sustentou que a estatal não planeja, em nenhuma hipótese, tomar medida semelhante no futuro, alterar sua política de preços ou mesmo mudar a periodicidade dos reajustes dos combustíveis.

– Vamos falar claramente: foi uma iniciativa excepcional que não vai se repetir. (…) Foi uma situação excepcional que exigia uma medida excepcional – observou Parente, acrescentando que a Petrobras “não está mais sob o fogo” após a decisão. – Vamos continuar com a política de preços que estabelecemos para a empresa. Se o governo quiser ter subsídios, terá que prever compensações em contrato para a companhia.

O presidente da Petrobras falou que a decisão – que deve custar estimados R$ 350 milhões à Petrobras – levou em consideração a gravidade da situação e a velocidade com que atingiu o país. Outro aspecto foi o dano à reputação da Petrobras, disse.

– A Petrobras começou a ser culpada como a única responsável pela situação. Claramente, vimos que começou a entrar em dicussão a liberdade da Petrobras para praticar seus preços. Estávamos, então, claramente, em uma posição defensiva. Por isso a diretoria decidiu fazer um movimento, que deveria ser ousado e temporário, e não criar nenhuma situação que poderia mudar nossa política de preços – afirmou, acrescentando: – Estamos hoje melhor do que estávamos ontem. Saímos do lado defensivo para o lado ofensivo. A Petrobras não poderá mais ser culpabilizada. Oferecemos nossa parte para solucionar o problema. Poderíamos sofrer perdas maiores do que teremos com a medida nesses 15 dias. Estamos serenos.

De acordo com o executivo, os custos de não tomar a decisão poderiam ser maiores do que os R$ 350 milhões estimados, caso as unidades da Petrobras fossem afetadas pela greve.

– Infelizmente, a situação ainda não melhorou. Mas sentimos que, ontem, foi nossa contribuição. Não estamos mais sob o fogo cruzado, e isso foi muito importante para a gente – acrescentou.

Parente esquivou-se de perguntas sobre quais medidas deveriam ser tomadas pelo governo para encerrar a greve dos caminhoneiros.

– Não somos parte nas negociações, e é importante deixá-las a cargo de quem são os responsáveis por elas. Eu não sei o que deveria ser feito porque não estou párticipando – disse Parente. – Cabe agora ao governo tomar as medidas para resolver a situação.

Após a teleconferência, o analista do Banco do Brasil, Daniel Cobucci, escreveu em relatório que há lógica na argumentação da Petrobras de que, se não congelasse o preço do diesel, ela poderia sofrer perda financeira muito maior. Ele ponderou, no entanto, que os investidores estão olhando principalmente para o futuro da política de preços da estatal.

“A questão é a quebra de uma lógica já estabelecida e o precedente aberto para novos ajustes que possam afetar o retorno dos investidores”, escreveu. “A implementação da política de preços em outubro de 2016, na nossa opinião, melhorou a governança corporativa da empresa, levando a maiores transparência e independência com relação ao governo. No passado, a falta de uma política de preços levou a perdas financeiras substanciais, e a atual mudança, embora temporária, estabelece um precedente para uma volta ao passado.

CARIRI EM AÇÃO

Com O globo/Foto:Divulgação

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