Guardar em casa pode ser arriscado, por questões de segurança, mas quem faz garante: não sente falta no bolso e, no final, consegue tirar uma boa grana. O comerciante Juarez Luiz, 54, conseguiu, por exemplo, no início do ano, pagar a matrícula da filha de 13 anos e comprar todo o material didático. O dinheiro veio das moedinhas no valor de R$ 1 depositadas em um mealheiro que, no final das contas, foi capaz de comportar R$ 2 mil.
O problema é que as moedinhas esquecidas no cofre não fazem render o investimento, diferente se fossem aplicadas, por exemplo, em uma conta poupança. Se Juarez optasse por aplicar os R$ 2 mil do seu mealheiro, em um ano, o seu rendimento seria de R$ 120.
Embora a prática do cofrinho seja muito comum, depositar dinheiro na poupança ainda é a preferência dos entrevistados. O percentual de 65% pessoas respondeu aos pesquisadores que guardavam o dinheiro na conta. Outros 18% dos brasileiros ouvidos disseram depositar o rico dinheiro na conta-corrente.
Para o educador financeiro e colunista do CORREIO Edísio Freire, deixar o dinheiro no porquinho é fazê-lo desvalorizar, levando em conta as taxas de inflação do país com um histórico nada animador.
“Não é apenas por uma questão de não fazer render o dinheiro. A cada mês que fico com o dinheiro guardado embaixo do colchão, além de não estar ganhando nada com isso, eu estou desvalorizando. Daqui a um ano, o dinheiro que eu tinha hoje, não terá o mesmo valor, o mesmo poder de compra, porque a inflação está aí para desvalorizar a moeda”, explica o educador.
Troco
A dona de casa Larindalva Carvalho, 67, não tem muitas pretensões de fazer o dinheiro multiplicar na conta. Os cofrinhos alimentados com o troco que sobra de alguma compra, quando cheios, vão direto para as mãos dos afilhados de 3 meses, 3 e 13 anos. Como não é ela a responsável por quebrar cofres, às vezes, ela nem fica sabendo do valor economizado. Da última vez que ela se interessou em saber, o cofre dado ao seu afilhado de 15 anos – que já não recebe mais o agrado por conta da idade – possuía R$ 700.
Mas a poupança, lembra o educador, não é tão vantajoso assim, já que ele tem sido mais uma opção de preservar o dinheiro do que fazê-lo multiplicá-lo na conta, já que as taxas de juros andam baixas. A saída seria, sugere, diversificar, investindo tanto em uma renda fixa como em uma variável.
Mas o investidor precisa ter consciência de que na renda fixa, como a poupança, Fundos DI e títulos públicos, é possível saber de quanto será o rendimento, diferente da renda variável onde não é possível saber o quanto será sua rentabilidade.
“Tem que buscar estratégias para fazer o dinheiro render a longo prazo. Se você quer sair um pouco do conservadorismo pleno é preciso arriscar um pouco mais, mas mercado está um pouco estressado pelas questões da greve dos caminhoneiros, invasão de capital estrangeiro…”, pontua o educador.
A caderneta de poupança ainda é a modalidade de investimento mais conhecida pelos entrevistados da pesquisa. Ao menos 81% das pessoas que possuem dinheiro guardado já ouviram falar. Em seguida aparecem os títulos de capitalização (48%), planos de previdência privada (45%), ações em Bolsas de Valores (39%), fundos de investimentos (33%) e o Tesouro Direto (24%).
Embora conheça as vantagens e a segurança de investir na caderneta, a despachante aduaneiro Cleide Maria Luz de Araújo, 48, disse que há uma diferença entre investir em uma conta e esquecer as moedas no cofrinho.
“A partir do momento que você pega um cofrinho e firma uma meta de fazer alguma coisa, você dificilmente mexe no dinheiro. Eu também possuo conta poupança e sei que essa diferença existe”.
Na primeira vez que decidiu economizar guardando o dinheiro em casa, Cleide conseguiu juntar quase R$ 1 mil. Desde então tem utilizado a economia para comprar eletrodomésticos e ajudar os familiares.
Edísio Freire esclarece que há ainda uma certa resistência em fazer o investimento na caderneta. Isso porque, nos anos 90, muitos brasileiros sofreram com o confisco bancário do governo Collor de Melo. O resultado foi longas filas no banco e a única opção de realizar saques na caderneta ou conta-corrente de 50 mil cruzeiros novos.
Poupando
A mesma pesquisa revela que no último mês de maio apenas 16% dos brasileiros conseguiram poupar parte de seus rendimentos, como salários, aposentadorias e pensões, por exemplo. A maioria (71%) terminou o mês sem dinheiro para aplicar. E mesmo entre as pessoas de mais alta renda, o hábito de poupança revela ser algo precário. Nas classes A e B, apenas 28% dos entrevistados pouparam em maio, contra 66% que não. Nas classes C, D e E, o percentual de poupança já é um pouco mais complicado, caindo para 13%. Considerando os que se recordam do valor guardado, a média foi de R$ 440,40.
Entre os brasileiros que não pouparam nenhum centavo em maio, 40% justificam uma renda muito baixa, o que inviabiliza ter sobras no fim do mês. Outros 25% foram surpreendidos por algum imprevisto financeiro e 12% que não possuem renda no momento, provavelmente por estar desempregados. Há ainda 12% de consumidores que admitiram ter perdido o controle e a disciplina sobre os próprios gasto.
13% dos brasileiros queimam poupança em gastos do dia a dia
O motorista Izaias Nunes faz uso de sua poupança todo mês para pagar despesas da sua família, mas conta que nem sempre foi assim. “Agora eu uso minha poupança todo mês com despesas de alimentação, para abastecer o carro e coisas assim”, explica. Izaias é parte dos 13% de brasileiros que, no mês de junho, usaram parte da poupança para gastos do dia a dia de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira (23) pelo Instituto Brasileiro de Economia e da Fundação Getúlio Vargas.
Para o professor de economia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Paulo Brito, diante da dúvida entre sacar dinheiro da poupança, assim perdendo o rendimento do mês, ou arcar com juros de contas atrasadas, a primeira opção vale mais a pena. “A poupança hoje em dia rende muito pouco, especialmente a curto prazo, então vale a pena retirar dinheiro da poupança para custos do dia a dia”, conta ele.
O levantamento revelou que 16,3% daqueles com renda mensal entre R$ 2,1 mil e R$ 4,8 mil usaram a poupança para despesas no último mês e 15,5% destes brasileiros estão endividados. Para a economista Ângela Chaves em qualquer cenário econômico o ideal é não se endividar, mesmo que seja necessário fazer uso do dinheiro guardado. “As taxas de juros praticadas no mercado são sempre muito superiores às praticadas pelas instituições financeiras”, explica.
Um levantamento feito pelo Boa Vista SCPC revelou que o desemprego foi a principal razão para inadimplência no primeiro semestre de 2018 seguido pelo descontrole financeiro.
A FGV aponta a recuperação lenta da economia e do mercado de trabalho como fatores que levaram muitos brasileiros a usarem suas reservas econômicas. O melhor desempenho da economia nacional poderá reverter este cenário e levar menos consumidores a optarem pela evasão de recursos das poupanças.
CARIRI EM AÇÃO
Com Correio24h/Foto:Reprodução Internet
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