Veja o que pensam eleitores em dúvida entre Haddad, Bolsonaro e voto nulo

Sentimento similar ao de seis eleitores que a Folha convidou para debater o que fazer agora, após os candidatos nos quais apostaram no primeiro turno ficarem para trás.

A arquiteta “e hoje mãe em tempo integral” Berta Ambrosi, 41, é exceção: foi de Ciro Gomes (PDT) e migrará para Haddad. Ok que Berta criou repulsa ao PT, que cometeu uma “traição sem tamanho” com todos que, como ela, viam no partido um farol de esperança antes de protagonizar um escândalo atrás do outro.

Mas fazer o quê? Veja bem, ela é “a família tradicional brasileira que Bolsonaro defende, dona de casa, mãe”, alguém que, com 15 anos de casamento, “não trai o marido”. E até leu o programa de governo do candidato do PSL e concluiu: “O cara não é tão escroto assim”, algumas proposta ali até que são decentes.

Mas “as escrotices dele são tão ruins”, se destacam tanto, que ela vai tapar o nariz e apertar 13 nas urnas. Fala das posições preconceituosas contra LGBTQs, indígenas e negros que atrib

ao capitão reformado. Teme que esses grupos estejam vulneráveis num governo Bolsonaro.

“Não vou falar pra Malu: ‘A galera tá morrendo pois não tive coragem’”, afirma enquanto a filha de quatro anos faz desenhos na cadeira ao lado.

Cinco dos sete presentes dizem que, por ora, pensam em anular o voto. Pode ser que o engenheiro Diego Aguirre, 38, opte por Bolsonaro. Ainda não sabe. Mas já sabe que Haddad nem pensar, e olha que votou num petista para o Senado, Eduardo Suplicy, por ter “certeza que esse não está envolvido” em corrupção.

“Acho que nenhum dos dois vai mudar muita coisa.” Mas do PT ele já tem ideia do que esperar. “Tenho um amigo que fala que o brasileiro é o cara que chega em casa, pega a mulher com três na cama e sai pra comprar flores. Toda vez o eleitor é traído e perdoa.”

O universitário Gregory Prudenciano, 25, brinca: foi “um dos quatro que votaram na Marina Silva [Rede] em São Paulo”. No Facebook, adicionou ao avatar o apelo “Por favor, Temer, fica”, troça nas redes sociais sugerindo que o presidente com pior aprovação na história é melhor do que o que nos espera por aí.

Gregory até propõe que ele dê “um golpe” de novo, como acha que fez com Dilma (PT) em 2016. “Quem foi rei nunca perde a majestade”, graceja.

‘SPC DA HISTÓRIA’

O grupo odeia esse papo de “isentão” que os dois polos tentam impingir em quem não quer abraçar um dos candidatos —a ideia de que quem se exime de escolher lados é covarde e periga entrar numa espécie de SPC da história.

“O PT instrumentaliza o medo. Pesa nas cores, usa recurso moralista”, afirma Gregory. “Defende o voto de superioridade moral: ou você vota no Haddad ou ‘o país vira isso aí’, de forma a te constranger.”

Ele, por exemplo, é evangélico e namora um rapaz. “Já fui questionado, como cristão e LGBTQ, por amigos sobre meu caráter e minha militância.” Também ouve coisas como “se você não vota no PT, não quer que pobre ande de avião, é a favor do golpe”.

Caiu bem, entre o septeto, a fala do senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), irmão de Ciro, que na semana passada disse em ato com Haddad: o PT “tem de fazer um mea culpa, pedir desculpa, ter humildade e reconhecer que fizeram muita besteira”, e se não o fizer “merece perder” a eleição.

Para Gilberto, “se Haddad abraçasse o discurso do Cid, seria perfeito”. Mas não põe fé.

O rapper Márcio Reche Parrillo, 33, não acha justo ser acusado de ter “sangue nas mãos” se Bolsonaro, a quem repudia, ganhar. Só “com uma arma na cabeça” votaria em alguém. Haddad, no caso.

“Preferia deixar como está, que está uma merda, do que arriscar a piorar. Lá vai pobre de novo tomar no cu, porque ele [Bolsonaro] vai armar a população que tem dinheiro para comprar uma arma.

“Estou quase apostando no Bolsonaro, pois minha música vai ter mais impacto… Tá, brincadeira”, diz o autor de raps como “Maçonaria Urbana” (“política de titica/para presidente/vote Tiririca”). Continua em tom de revolta: “Meu, o brasileiro tem mais é que se fuder. Chegar no segundo turno com esses dois…”.

Berta discorda. Argumenta: se a filha mentir para ela, “posso dar uma surra”. Mas quais seriam as sequelas disso? “Não acredito que castigar o povo” seja a solução, afirma. “A gente pode reeducar o povo. Votar no PT e ficar de olho para não ter mais corrupção.” A mesa mostra ceticismo.

A intenção da administradora Cristina Scola, 57, era apoiar Álvaro Dias (Podemos), mas mudou para Ciro. Queria forçar uma disputa que não PT vs. Bolsonaro. “Não concordo com muito do que ele diz, mas não seria extremidades.”

Recusa-se a aceitar “a culpa” por não querer nem um nem outro. Bolsonaro? Isso jamais. E PT? “Poderia ter sido o melhor partido do Brasil se não tivesse ido com muita sede ao pote e não fosse tão socialista. Distribuiu o nosso dinheiro para países comunistas.”

FAKE NEWS

Quem bateu o martelo à direita ou à esquerda costuma se fechar com quem pensa igual na bolha das redes sociais. Mas o que recebe o WhatsApp dos que ainda estão meio lá, meio cá? Vídeos de fraude nas urnas, diz Diego.

No primeiro turno, “tinha mais vídeos de ovni do que alguém mostrando mesmo acontecer uma fraude”, ironiza o engenheiro de sistema. “Impossível que, de 100 milhões de pessoas, nenhuma tenha filmado a fraude”.

Já Márcio não confia muito no sistema, não. “Acho que pode ser fraudado. Vou perder meu tempo indo lá votar.” “Mas então você nem vai?”, questiona Berta. “No segundo turno? Se bobear, nem vou.”

No celular de Gregory, são “as tias” as compartilhadoras oficiais de fake news. “Como estudante de jornalismo eu corrijo, explico, pego link da Lupa, do Aos Fato, do Fato ou Fake”, enumera agências especializadas em checar se uma notícia é verdadeira ou falsa. “E depois peço pelo amor de Deus que não mandem mais.” Seu desejo não é uma ordem.

Um que posta “muita coisa falsa é o Magno Malta”, diz Gregory. “Ah, mas esse aí Deus castigou. Perdeu para um gay assumido. Achei ótimo”, ri Neli.