“As discórdias que existiam antigamente existem hoje do mesmo jeito”, diz dona Inês Araújo, que recentemente completou 101 anos e, para comemorar, pediu doações ao invés de presentes, que foram entregues a outros idosos do Hospital Napoleão Laureano, referência no tratamento contra o câncer na Paraíba. “Se eu tenho tanto, não é justo que outras pessoas não tenham nada. Essa é uma das lições que a vida nos dá”, pontua.
Falando palavras como ‘money’ e com um look que inclui vestido e brincos combinando, além de várias pulseiras delicadas colocadas estrategicamente em seus punhos, dona Inês, apesar dos 101 anos de idade recém completados, possui a alma incrivelmente jovem. E ela não nega: “Sinceramente, não me sinto com 101 anos. Acho que tenho uns 70, algo assim. Não me sinto velha”, garante.
Não estudou, mas tem uma formação melhor: “sou formada pela vida. 101 anos dá pra gente aprender um monte de coisa”, diz ela, entre sorrisos. Para quem nasceu no pós-guerra e acompanhou a Segunda Guerra Mundial, além de outros momentos históricos importantes do último século, como a queda do muro de Berlim, por exemplo, ou o fim da ditadura militar, dona Inês é uma entusiasta da vida. Podia se deixar abalar pelas atrocidades que a humanidade já foi capaz de cometer, mas prefere manter um olhar mais positivo diante da vida. Para ela, o que conta, na verdade, é o que é feito pelo bem.
“Eu não preciso de mais nada, tenho tudo o que eu poderia querer. Meus filhos cuidam de mim, me dão tudo que eu quero, e o melhor: me dão muito amor. Então pra quê eu iria querer que me dessem presentes no meu aniversário? Se tem tanta gente precisando, melhor dar a eles. Foi aí que resolvi pedir pras pessoas trazerem materiais de limpeza para serem doados na minha festa dos 101 anos”, conta.
A festa reuniu apenas a família e amigos mais próximos, mas foi o suficiente para uma lista de quase 100 convidados. As doações recebidas variaram entre materiais como água sanitária até fraldas geriátricas – doações essas que ela mesma fez questão de entregar, pessoalmente, ao Laureano.
A escolha pelo hospital não foi de toda ao acaso. Dona Inês já foi vítima do câncer, assim como seu pai, que faleceu da doença, e uma de suas filhas. Sua disposição e força de vida, no entanto, contradizem qualquer problema de saúde. Ela conta, orgulhosa: “até os 92 anos eu andava de salto luís XV. Agora não ando mais porque a idade começou a pesar um pouquinho”. Um pouquinho.
Quando questionada sobre o futuro, ela diz, sem pestanejar: “não sei se chego aos 130, mas se Deus me der saúde pra chegar até lá, acho ótimo”. E conclui: “Meu sonho? Olha, queria muito voltar para o comércio, mas acho que agora não dá mais, não…”.