CAROLINA LINHARES E HENRIQUE CURI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os governadores eleitos em 2018 têm menos prefeituras aliadas em seus estados. O partido dos novos governadores faz parte da coligação que venceu a eleição municipal de 2016 em 32,5% das cidades brasileiras -em 11,5% delas, prefeito e governador são filiados ao mesmo partido.
Para os governadores eleitos em 2014, considerando os prefeitos eleitos em 2016, a proporção de prefeituras aliadas era de 43,2%, uma queda de quase 11 pontos percentuais. A proporção de prefeitos e governadores da mesma sigla chegava a 19,5%.
Um em cada quatro prefeitos aliados deixou de sê-lo em função dos novos eleitos. Os dados consideram apenas alianças partidárias, mas há casos em que prefeitos e governadores se aliam mesmo em situação de oposição –ou são inimigos dentro de uma mesma sigla.
O levantamento feito pela Folha de S.Paulo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que a proporção de prefeitos considerados aliados caiu significativamente em alguns estados, como Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte, por exemplo.
O que também influenciou a queda na taxa de prefeitos aliados foi a eleição em 2018 de partidos antes inexpressivos, como o PSL em Roraima, Rondônia e Santa Catarina, e o Novo, em Minas Gerais.
Em Santa Catarina, a queda de prefeitos aliados chegou a 96% –de 140 para 6.
Minas Gerais, que é o estado com maior número de municípios (são 853), passou de 29% de prefeituras aliadas ao PT de Fernando Pimentel para zero, com Romeu Zema (Novo). O partido, registrado em 2015, ainda não tem nenhum prefeito.
Estudiosos consultados pela reportagem avaliam que a desconexão entre prefeitos e governadores não vai durar muito –não é um bom negócio estar na oposição.
“Todo prefeito está de olho em como atrair recursos para o município. Geralmente, eles mudam de partido após a eleição de governadores para não perder esse acesso”, afirma George Avelino Filho, professor de ciência política da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.
“Os prefeitos atuais vão tentar sobreviver. Deve haver um êxodo de prefeitos de partidos tradicionais para partidos mais novos, que estão mais populares. E vão ser eleitos, em 2020, prefeitos desses partidos mais novos”, concorda Maurício Bugarin, professor de economia da Universidade de Brasília.
Bugarin é autor de uma tese precursora sobre as transferências partidárias, ou seja, o fato de que repasses de verbas não obrigatórias tendem a manifestar uma preferência partidária. Prefeitos aliados do governador costumam receber mais recursos.
“Prefeitos vão começar desde agora a se aproximar mais do partido do presidente ou do governador, seja oficialmente ou indiretamente, para tentar conseguir um pouco desse benefício”, diz.
Avelino lembra que 70% dos municípios do país têm até 20 mil habitantes e pouca capacidade de arrecadação. Embora o fenômeno das transferências seja mais significativo em estados mais ricos, mesmo os prefeitos de estados pobres tendem a recorrer ao governador.
Segundo as pesquisas de Bugarin, as transferências partidárias dificultam a competição eleitoral porque os eleitores tendem a votar em prefeitos alinhados com governador visando mais recursos, mas em 2018 prevaleceu o desejo de mudança.
“Esse esforço nacional contra a corrupção desacreditou demais o universo político aos olhos dos eleitores, que deixaram de se preocupar com as transferências voluntárias”, diz Bugarin.
Partidos tradicionais viram o casamento entre seus prefeitos e governadores perder força. A proporção de prefeitos aliados caiu de 30% a 40% para PT, MDB, PR e PSD. Para PSDB, PP e SD, a queda foi de cerca de 25%.Em 2020, Bugarin aposta que “o eleitor vai escolher o prefeito que permitir receber mais repasses –alguém do partido do presidente ou do governador”.
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